“O FADO É QUE EDUCA E O VINHO É QUE INSTRÓI…”

o fado subtil e patriótico de AMÁLIA

Este é um pregão que caracteriza bastante bem a filosofia política presente durante o período salazarista. O povo era mantido, sob o efeito do álcool, adormecido, dormente mesmo, para não pensar em questões sociais, para não ter ideias contra o ESTADO. Para isso mantinha-se uma economia rarefeita que não lhe permitia senão ter dinheiro de bolso para um copito de vinho na taberna ou no café da aldeia, e nas cidades, onde o perigo era maior, o fado era tolerado como “válvula de escape” à opressão, desde que não utilizasse letras demasiado evidentes. Amália vingou neste meio com canções subtis, com verdades escondidas nas entrelinhas e entre palavras…

Nos dias de hoje o fado converteu-se na vida difícil de cada um, para fazer frente às suas dívidas e à perseguição perpetrada pelos bancos e pelas finanças contra o património das famílias e dos indivíduos. O vinho é agora a televisão com notícias disparatadas sobre os famosos ou novelas de enredos fúteis que se multiplicam como peixes venenosos e a internet, o caos em expansão, que se vai apoderando aos poucos daqueles pequenos momentos de lazer que iam sobrando nos intervalos dos empregos que cada vez ocupam mais horas e pagam menos dinheiro…

Uma sugestão: o novo filme AMÁLIA é um excelente e subtil retrato de época onde estas e outras subtilezas estão subtilmente retratadas.