BANCOS E FISCO RETIRAM CASAS A MAIS DE 700 FAMÍLIAS NO 1.º TRIMESTRE 2011

a pobreza passa dos núcleos familiares pobres para as ruas e para a miséria extrema

Mais de 700 famílias portuguesas perderam este ano a casa onde viviam, por impossibilidade de pagamento da prestação ao banco. Apesar de executados em 2011, estes processos tiveram início em 2009 e 2010, estimando a Deco, que "a situação se agrave nos próximos meses". "Nos primeiros dois meses deste ano abrimos mais cem processos do que em igual período do ano passado e todos os dias nos bate à porta mais gente sem capacidade para fazer face às despesas", disse ao CM Natália Nunes, a coordenadora do Gabinete da Apoio ao Sobreendividado (GAS) da Deco. "Os processos que abrimos em Janeiro e Fevereiro (612) são relativos a pessoas que, em nosso ver, poderão ter hipótese de, com grandes sacrifícios, resolver a sua situação, mas a verdade é que nós fomos contactados por mais de duas mil pessoas e a maioria já estava numa situação de gravidade tal que já não era possível salvar os bens dos credores, na maioria das vezes, nem a casa", explicou Natália Nunes.

Também Eugénio da Fonseca, presidente da Cáritas, disse que nunca a organização se tinha deparado com tanta gente a pedir ajuda no sentido de tentar salvar a casa. "Estamos perante um caso em que a lentidão da Justiça tem sido socialmente benéfica, ou seja, não assistimos a um mar de despejos, porque os processos vão-se arrastando nos tribunais", disse Eugénio da Fonseca, assegurando que "a Cáritas não consegue, de forma alguma, dar resposta às centenas de pedidos de ajuda ao pagamento de créditos à habitação que, nestes últimos meses, nos têm chegado". Diz Eugénio da Fonseca que, "quando as pessoas batem à porta da Cáritas, já têm vendidos outros bens comprados a crédito, como carro ou mobílias, e pretendem, desesperadamente, salvar a casa". Perante esta situação e atendendo ao facto de o mercado imobiliário atravessar um período de estagnação, os bancos estão a criar serviços especializados em renegociação de dívida, apostando no alargamento dos prazos.