REVISTA TIME ELEGE "O MANIFESTANTE" COMO FIGURA DO ANO

a escolha foi polémica, mas parece ser justa e acertada dada as convulsões sociais de 2011

A revista "Time" escolheu "o Manifestante" (The Protester) em função de um certo paternalismo ocidental sobre o que não é nem Europeu, nem Americano. Precisámos sempre de heróis porque, precisamente, não conseguimos construir memória colectiva sem ícones. Essa é a nossa vulnerabilidade maior, daí a dependência que temos da democracia, o "pior de todos os sistemas com excepção de todos os outros". As revoluções árabes, Atenas, Madrid, Nova Iorque, ou o que se há de seguir, não são palcos ficcionais cujo romantismo da luta sirva para exultar e desculpar o pequeno preguiçoso dentro de cada um de nós, e autoconsagrar esta nossa ridícula visão ocidental de democracia, alimentada ao ventilador artificial pelas redes sociais e pela suposta omnisciência libertária da "geração google". Aqueles palcos são locais de intenso sofrimento, de lucidez induzida à força pela infâmia de criminosos de Estado, de abusadores do poder, de homicidas com exércitos à sua disposição. Esta idolatria extrema das convulsões, e consequente desvalorização das lideranças e das ideias, pode levar-nos para um caminho de demissão colectiva dos valores políticos aceites. Para trás fica Mohamed Bouazizi, o tunisino que se imolou em plena rua, num acto de desespero ficou registado como "o início" de todas as revoluções árabes - ou não - que se lhe haviam de seguir. Grécia, Itália, Inglaterra e Noruega seguiram o exemplo na Europa.