menos vaca, mais porco e legumes da horta é a nova dieta da média das famílias lusas
A crise está a obrigar as famílias portuguesas a mudar os hábitos de consumo. Compram cada vez mais marcas brancas nos super e hipermercados, optam pelos iogurtes, bolachas e cereais básicos e trocam a cerveja, o vinho e os refrigerantes pela água.
No raio-X à sociedade em Portugal, os dados são arrebatadores. Na mesa dos portugueses há menos leite e bacalhau. O volume de leite caiu 4,5% nos últimos três meses de 2011, enquanto as despesas com o bacalhau baixaram para 1,4% o ano anterior, em relação ao mesmo período do ano de 2010.
Mas é na carne que os números são surpreendentes. Os portugueses consomem menos carne de vaca e apostam mais nas menos dispendiosas, como o porco e as aves. Em 2010, o consumo de carne fresca aumentou 4,8%, com destaque para o porco com 9,1% e para as aves com 6,5%. A carne de bovino manteve os mesmos valores do último trimestre de 2010, ao subir apenas 0,8%.
Segundo dados do INE (Instituto Nacional de Estatística), os portugueses cortaram nos gastos com a carne no terceiro e quarto trimestre de 2011, desde que há estudos do instituto sobre a matéria, ou seja, 1996.
Os dados foram apresentados ontem no portal “Conhecer a Crise” pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, em Lisboa.
Os mais de 150 indicadores analisam à lupa temas variados como o apoio social, a balança de pagamentos ou as finanças públicas. Segundo o estudo liderado por António Barreto, a região do Algarve é a mais afectada pelo desemprego, com uma taxa de 17,5% no quarto trimestre de 2011. Por outro lado, é também nesta zona do país que o endividamento das empresas é maior. Só no Algarve há 11,4% instituições que não pagaram os empréstimos concedidos no último trimestre do ano passado. Para combater a crise, os portugueses gastaram menos dinheiro em roupa e calçado e nem as despesas com o carro em combustível escapam. Em Janeiro deste ano, 2,6% dos portugueses optaram por pagar com cartão o combustível em relação ao mesmo período do ano anterior. No mês seguinte, os gastos com o combustível caíram para 0,6% em relação ao período homólogo de 2010. Estes valores comprovam que há menos carros a circular nas estradas portuguesas. Retrato do país. O objectivo do portal é simplificar as informações e permitir aos utilizadores perceber melhor os verdadeiros efeitos da crise.
Apesar dos cortes anunciados pelo Ministério da Segurança Social, o número de beneficiários de abono de família cresceu e em Fevereiro de 2012 chegou a 1 156 526 pessoas. Os beneficiários do rendimento social de inserção aumentaram para 322 919, tendo o valor médio atingido os 91,2 euros. Quanto às aquisições de bens, os automóveis, computadores, máquinas fotográficas, televisores e outros electrodomésticos tiveram uma queda de 31,8% no quarto trimestre de 2011, relativamente a igual período de 2010. No caso do endividamento dos particulares, os empréstimos para consumo e outros fins lideram a tabela das pessoas em incumprimento. A situação agravou-se no quarto trimestre de 2011, com um aumento de 16,2% em relação ao mesmo período do ano passado. É o exame a pente fino dos números da crise em Portugal.