a escrita, ou neste caso, a ausência dela, pode ser uma arma contra a Troika, usada pela PSP
Depois de ter sido assaltada no último fim-de-semana no Cais do Sodré, C. telefonou para a 5.a esquadra da PSP de Lisboa, na Boavista, para saber que documentos deveria levar consigo no momento de apresentar queixa. Mas foi aconselhada, ontem, a dirigir-se à esquadra vizinha do Bairro Alto. A justificação do agente que atendeu a chamada é que ali as impressoras não trabalham há mais de um mês e a queixa não poderia ser formalizada. “Disseram-me que devido à falta de tinteiros o melhor seria ir à esquadra do Bairro Alto”, relata C.
Ao i, um agente da esquadra da Boavista confirma que os queixosos estão a ser encaminhados para outras esquadras de Lisboa – nomeadamente a do Bairro Alto, por ser a mais próxima – há cerca de um mês, desde que se acabaram os tinteiros das impressoras: “É uma situação que tem gerado constrangimentos, porque as pessoas nem sempre compreendem e pensam que é má vontade da nossa parte”, acrescenta o agente, que prefere manter o anonimato. Fonte da polícia garante que a situação não é única no comando metropolitano de Lisboa, com “várias esquadras impedidas de registar queixas” devido à falta de tinteiros.
No Porto, a inexistência de consumíveis também tem efeitos e já obrigou agentes da PSP a dar boleia a queixosos até às esquadras onde ainda há tinteiros. Segundo o “Correio da Manhã”, na Areosa e em Leça de Palmeira há mais de duas semanas que não é possível formalizar uma queixa.
O comando metropolitano do Porto diz estar à espera de verbas para a reposição dos tinteiros, sublinhado que se tratam de situações “pontuais”. Já a direcção nacional da PSP, contactada pelo i, garante que estes casos “nada têm que ver com falta de dinheiro”. O problema estará relacionado com os os prazos dos contratos de aquisição pública. Ainda na semana passada, o ministro da Administração Interna, Miguel Macedo, anunciou estar para breve a conclusão de um concurso público internacional para a aquisição de viaturas para as polícias, cujo processo foi iniciado já em Janeiro. “A PSP só pode dar início a qualquer tipo de aquisição depois de, administrativamente, todas as fases dos concursos estarem terminadas”, justifica a direcção nacional. A “crise” na polícia não se resume às impressoras. Há esquadras, como a 83.a, em Carnaxide, sem gás há um mês. E existem outras, garante fonte da PSP, “em que oficiais já tiveram de pagar do seu bolso a mudança de óleo das viaturas policiais”. Além disso, segundo o presidente da Associação Sindical dos Profissionais da Polícia, Paulo Rodrigues, existem “centenas de viaturas imobilizadas por causa de pequenas reparações, sobretudo em Lisboa, no Porto e em Setúbal”. Ontem, o próprio director-nacional da PSP, Valente Gomes, admitiu que a falta de meios na polícia pode ser um factor de “descontentamento” para os agentes. O superintendente garantiu que estão a ser estudados “mecanismos que permitam atalhar a resolução de situações mais prementes, sem pôr em causa os procedimentos da lei da contratação pública”. (in, Jornal i)