OS CÓDIGOS DA NOITE (II)

o LUX-Frágil congrega vários estilos da noite num único espaço "multicultural" e "multicolorido"

«(…continuação) Os ácaros: por muito que tentem não conseguem entrar nos locais mais in. A roupa que usam esteve na moda no século XVIII. O corte de cabelo precisava de ver as tesouras de Vidal Sassoon. Como a vida é madrasta para alguns, os genes não foram nada simpáticos para eles. Simplesmente, não têm pinta. São tão transparentes que os porteiros conseguem olhar através deles. Mas num fenómeno digno de entrar num episódio dos Ficheiros Secretos, ficam à porta grande parte da noite, sempre na secreta esperança que: a) o porteiro tenha uma quebra de tensão, desmaie e possam aproveitar para entrar, b) Deus exista, faça um milagre que os transforme num serial killer e que faça do porteiro a sua primeira vítima. Dois conselhos: 1 – Mandem uma carta para o programa Espelho Meu, da RTP (mesmo assim alguns deles são casos perdidos). 2 – Organizem um sindicato, façam uma manifestação… Se não resultar, comecem um tumulto. Locais favoritos: coitados… eles tentam todos os lados.»

«Os novos-ricos: Sobretudo homens. Com uma orgulhosa barriga que deve pensar mais do que o resto do corpo e que serve de óptimo substituto de um air bag. Camisa aberta até ao umbigo, com os pêlos do peito com vida própria a quererem ver o que se passa na rua, tão espetados que parecem antenas de televisão. Normalmente, construtores civis, donos de mercearias, ou de lojas dos 300, ou então os seus filhos ou sobrinhos. Os porteiros têm um alarme que soa mais alto que os decibéis das pistas de dança, e quando um novo-rico se aproxima dizem a 330 à hora que o consumo mínimo é de 50€. Aqui, os novos ricos dividem-se em dois géneros. 1 – Os que têm orgulho em ser novos-ricos: incham de vaidade por lhes pedirem tanto dinheiro, abrem a carteira, recheada com alguns quilos de notas de 50€, pagam, entram na discoteca, e nem querem ficar com as senhas de bebidas a que têm direito. 2 – Novos-ricos rascas: dizem logo “Você nem sabe com quem está a falar. Exijo falar com o gerente da casa”. Depois de cinco minutos de conversa mais inútil que tentar estabelecer contacto com uma oliveira, abrem a carteira, tiram o dinheiro e arrancam as senhas da mão do porteiro. Normalmente, estão acompanhados por louras platinadas. Saem à noite para mostrar a todas as pessoas que têm muito dinheiro, pagando copos aos amigos, conhecidos e ocasionais que tiveram a sorte de estar ao seu lado quando estavam a pedir a bebida. Locais favoritos: Docks, Kapital, Plateau.»

«Suburbanos: deixam os seus T2 na Rinchoa, Brandoa e Buraca, onde vivem com os seus pais, dez irmãos e quatro avós, com a esperança de conseguirem entrar nos locais da moda. Durante muito tempo eram Ácaros, mas depois de terem visto como se veste quem entra nesses locais, começaram a usar a mesma roupa. A primeira vez que vão com a nova farda, os seus corações batem mais depressa do que o motor de um Ferrari, e quando o porteiro os deixa entrar têm uma sensação só mesmo comparável ao orgasmo. Ficam sempre nos locais mais escuros para ninguém perceber que as calças que usam não são Levis, mas sim Levviss e que o top não é mango, mas sim Mengu. Se, à primeira vista, não conseguirem distingui-los, o cheiro típico a lixívia e a linguagem com muitos “bué”, “fónix” e “moça”, denunciam-nos mais depressa que se tivessem um placard de néon a dizer “Eu sou da Damaia”. Os nomes também são facilmente denunciáveis: Carina, Vanderley, Vanessa, Cátia. Os superbem gostam de engatar as suburbanas porque são mais fáceis e aumentam viagralmente a sua contabilidade de engates. As suburbanas têm um hobby: dizer mal das superbem, mas aproveitam para ver como estão vestidas para, na semana seguinte, tentarem arranjar roupa semelhante na Feira de Carcavelos ou na Maconde. Normalmente, trabalham nas caixas dos supermercados ou em retrosarias. Locais favoritos: Kapital, Plateau, Docks, Kremlin.»