JOÃO CALDEIRA, EX-GESTOR DA EXPO'98: TRÁFICO DE DROGA

João Caldeira, gestor, político, empresário, já conhece bem os tribunais portugueses

O ex-gestor da Expo-98 João Caldeira negou hoje estar envolvido no tráfico de cocaína oriunda da Venezuela e que chegou ao porto de Lisboa em Dezembro de 2007, dissimulada num contentor com polvo congelado. Na primeira sessão do julgamento, a decorrer nas Varas Criminais de Lisboa, no Parque das Nações, a juíza Clarisse Gonçalves apresentou os factos relacionados com este caso perante os seis arguidos pronunciados pelo crime de tráfico de estupefacientes agravado e começou a ouvir um deles, João Caldeira. "Nunca foi do meu conhecimento que o polvo trouxesse cocaína", afirmou João Caldeira, que referiu ter sido somente "agente operador", cuja tarefa estaria relacionada com os procedimentos legais necessários à importação. João Caldeira acrescentou que receberia por esse trabalho 10 a 15 mil euros e a arguida Fernanda Ramos seria paga no mesmo montante. O arguido disse tratar-se de uma importação de polvo da Venezuela por uma empresa espanhola, que pretendia que a mercadoria viesse para Portugal, por ser "mais económico", para depois ser enviada para Espanha.

Em Dezembro de 2007 foram apreendidas 1,4 toneladas de cocaína, vinda da Venezuela, em contentores onde eram transportadas 600 caixas com polvo. A droga, que vinha dissimulada, daria para cerca de sete milhões de doses e teria um valor de mercado de mais de 280 milhões de euros, referiu hoje a magistrada judicial. A participação na operação em Portugal daria origem ao pagamento de 500 mil euros, um montante a dividir pelos arguidos, segundo também a acusação, mas João Caldeira alegou desconhecer esse valor. João Caldeira foi detido no Brasil, tendo sido extraditado para Portugal, encontrando-se em prisão preventiva. Este julgamento tem sessões marcadas para 20 e 27 de Janeiro. Antigo tesoureiro e responsável pela contabilidade da cooperativa de habitação Mar da Palha, que construiu apartamentos na zona da Expo'98, João Caldeira foi acusado noutro processo de se ter apropriado de cerca de 2,5 milhões de euros e foi condenado a sete anos de prisão pelos crimes de peculato, falsificação agravada, falsidade informática, abuso de poder, apropriação ilegítima de bens do sector cooperativo e por dois outros de burla.

Em Janeiro de 2009, João Caldeira e dois outros arguidos (um antigo director de serviços de informática e um director dos serviços de controlo financeiro e de tesouraria da Parque Expo) foram condenados na 4ª Vara Cível de Lisboa a indemnizar solidariamente aquela cooperativa em 2,298 milhões de euros. A cooperativa Mar da Palha adquiriu, na altura da exposição mundial de Lisboa, dois terrenos à Parque Expo destinados à construção de habitações nos empreendimentos baptizados de Vasco da Gama e de Gil Eanes. Foi após a detenção de João Caldeira, a 08 de Agosto de 1998, que os cooperantes foram surpreendidos com o desvio de cheques que lhe entregavam como pagamento dos terrenos onde iam crescer dois edifícios. Caldeira, que em 1998 apostara no negócio da pesca e congelação de marisco - investindo na empresa DICA, entretanto falida - precisava de dinheiro e foi aos cheques que os cooperantes lhe faziam chegar para pagamento dos terrenos que o foi buscar, através de artifícios contabilísticos, segundo o processo judicial. João Caldeira, que também tinha sido gestor da Parque Expo, saiu da cadeia em 2001, em liberdade condicional, mas encontra-se em prisão preventiva devido ao seu alegado envolvimento no caso da cocaína dissimulada em polvo congelado proveniente da Venezuela. (in, http://www.ionline.pt/ )