CAVACO SILVA PELA PRIMEIRA VEZ FALA COMO PRESIDENTE AOS PORTUGUESES

o Presidente deixou de tomar medicação ou resolveu trabalhar, fazer aquilo para que foi eleito?

"É impossível impor mais austeridade aos grupos mais vulneráveis da sociedade", afirmou o Presidente da República, Cavaco Silva, em entrevista à TSF. "Há um conjunto que nós chamamos hoje os "novos pobres" que são aqueles que são mais atingidos por medidas que, não tendo em devida conta a especificidade de cada grupo, as atingem. É preciso olhar às pessoas", disse o Presidente da República. "Eu penso que esse é um conhecimento generalizado. É impossível impor mais austeridade a grupos como aqueles que eu acabo de referir", acrescentou. Ao longo da entrevista, Cavaco Silva referiu-se aos pensionistas, aos pequenos empresários, às famílias que sofreram reduções "abruptas" dos rendimentos ou que estão sobreendividadas. Presidente da República critica supervisão e agências de rating Na mesma entrevista em que lamentou que os líderes europeus se deixem "chantagear" pela agências de rating, defendendo que sejam regulamentadas, Cavaco Silva criticou a falta de supervisão na Europa "Não se critique apenas a Grécia, não se critique apenas a Irlanda, não se critique apenas Portugal, que podem ter tido as suas responsabilidades por terem ultrapassado alguns limites", a nível de desequilíbrio orçamental, de dívida pública ou de dívida externa. "O certo é que a supervisão multilateral não foi realizada por quem competia realizar com a eficácia com que devia ser realizada", considerou.

Cavaco Silva lamentou ainda que os líderes europeus se deixem "chantagear" pelas agências de rating que, defendeu, devem ser regulamentadas. "Surpreende-me como é que vinte e sete chefes de Estado e do Governo se deixam condicionar e até chantagear por três agências de rating norte-americanas". Cavaco Silva defendeu que é preciso uma regulamentação que garanta transparência nas agências de rating, e que resolva eventuais problemas de conflitos de interesse. Salientando que a "visibilidade tipo directório" da Alemanha e da França é "bastante negativa" para a Europa, pondo em causa a coesão e comprometendo as relações com o resto do mundo. "Está-se a tentar avançar num federalismo mitigado na área orçamental, na medida em que se procura reforçar a disciplina orçamental, a supervisão dos orçamentos dos Estados-membros, a coordenação das políticas económicas. Isto são passos no sentido federal. Mas estamos muito muito longe de um orçamento federal.", afirmou o presidente, lembrando que o Orçamento da União Europeia corresponde apenas a 1% do produto interno bruto Cavaco Silva considerou que a carta de Cameron "está incompleta", nomeadamente quanto ao que propõe para o crescimento económico, já que não defende políticas expansionistas aos países com excedente orçamental que permitam equilibrar a austeridade nos países do Sul e evitar que o crescimento seja "anémico". (in, Jornal de Negócios).