as maiores empresas fecham portas com consentimento do Governo, de um dia para o outro
Com uma taxa de desemprego a rondar os 11 por cento, Coruche teme os efeitos da "bomba" que estoirou no passado dia 13 de Janeiro, quando o maior empregador privado do concelho anunciou a criação de uma "comissão para cessação da actividade".
Em causa estão, no total, 400 postos de trabalho, uma centena dos quais já alvo de rescisão, através de um despedimento colectivo realizado em Dezembro, numa empresa, a Tegael, criada há 30 anos e especializada nas áreas da energia e telecomunicações.
"Pode ser muito difícil de gerir essa situação, se se vier a concretizar", disse o presidente da Câmara Municipal de Coruche à agência Lusa.
Dionísio Mendes (independente eleito pelo PS) tem-se desdobrado em contactos e iniciativas, num esforço para manter no concelho a única empresa de serviços, qualificada, de um tecido empresarial dominado pelo sector primário, "muito na área do agro-alimentar".
Os efeitos do encerramento também não deixam dúvidas a Rui Aldeano, um jovem de 28 anos que começou a trabalhar na Tegael quando tinha 17 anos e que hoje lidera a União dos Sindicatos de Santarém.
"Para o concelho é catastrófico", disse à Lusa, sublinhando o facto de Coruche viver o drama do envelhecimento da população, aliado a um decrescimento demográfico, já que os jovens que terminam o secundário já não regressam, sobretudo se fecham as empresas que ainda criavam algum emprego como a Tegael.
"Se a Tegael der o tiro e fechar vai ser muito complicado", assegurou Manuel Sombreireiro, agricultor e membro da Mesa da Santa Casa da Misericórdia de Coruche, instituição que já vai sentindo, no dia-a-dia, que as pessoas do concelho "estão em grandes dificuldades".
Despedido no passado dia 21 de Dezembro da Tegael, Cláudio Abrantes confessou à Lusa que a Segurança Social ainda não lhe começou a pagar o subsídio de desemprego. "Agora pareço um presidiário. Vou à Junta de Freguesia de 15 em 15 dias e tenho de procurar três carimbos para mostrar que procuro emprego", afirmou, confessando que a perspectiva da emigração, que muitos lhe apontam, "só mesmo em último caso".
Depois de 20 anos e sete meses na Tegael, Cláudio Abrantes não consegue compreender porque foi despedido quando tinha em mãos, com mais três trabalhadores que chefiava, um projecto no valor de 45 mil euros.
"Tínhamos muito trabalho, sobretudo para a PT, que era a minha área. Não vejo razão para a empresa querer fechar as portas", afirmou. Rui Aldeano partilha a convicção de que a Tegael "é uma empresa viável" que está "com alguns problemas conjunturais como muitas empresas do sector, também devido ao esmagamento de preços" que as empresas suas clientes, como a EDP, a REN e a PT, fazem.
O presidente da Câmara Municipal de Coruche reforça com o facto de a empresa se ter internacionalizado, estando presente há sete anos, com 50 trabalhadores, no Reino Unido e com contratos em países como África do Sul, Marrocos, Cabo Verde, Brasil, S. Tomé e Príncipe e possibilidade de negócios em Angola.
"Queremos demonstrar que a Tegael tem viabilidade, e se momentaneamente atravessa problemas, porque o mercado está difícil, as margens são apertadas e os contratos não têm surgido ao ritmo esperado, há soluções", disse, declarando a esperança de que a empresa estude, como prometeu, alternativas ao encerramento. Partilhar