na era digital, a maior empresa de revelação do mundo faliu. O que nos espera quando os gigantes caem?
A empresa Eastman Kodak, falida, viu o seu nome retirado da transmissão dos Óscares no domingo. Em vez de Kodak Theatre, como era conhecido desde 2002, o local onde ocorreu a cerimónia de premiação foi designado como Centro Hollywood e Highland, nome do complexo de edifícios onde o teatro se encontra inserido. A Kodak entrou com pedido de concordata no início do ano e, na quarta-feira passada, rompeu o seu contrato de patrocínio com o teatro. Em 2000, a empresa assinou um contrato de 74 milhões de dólares para usar o nome do teatro de Hollywood. Deveria permanecer até 2020, mas, com a lei de falência, pôde pedir a rescisão do documento. Agora, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas e o CIM Group, responsável pelo edifício, vão decidir se a cerimónia vai continuar a ser realizada neste teatro a partir de agora. A sofrer com a mudança maciça dos consumidores para a fotografia digital, a KODAK diz que o seu pedido de falência, que lhe dará protecção face aos credores, visa a obtenção de liquidez nos EUA e no estrangeiro para rentabilizar a propriedade intelectual não estratégica, resolver o passivo e, assim, permitir à empresa que se concentre nas linhas de negócio mais valiosas.
O pedido de falência não abrange as subsidiárias fora dos EUA, que vão continuar a honrar todas as obrigações, segundo se lê no comunicado que a empresa publicou no site. A empresa espera pagar salários nos EUA e manter os serviços aos consumidores.
A Kodak tem estado com dificuldades financeiras crescentes, foi ameaçada de expulsão da Bolsa de Nova Iorque devido à brutal queda do valor das acções e obteve agora uma linha de crédito de 950 milhões de dólares, a ano e meio, do Citigroup.
“A Kodak está a dar um passo significativo para completar a sua transformação”, disse o presidente executivo, Antonio M. Perez, citado no mesmo comunicado.
O mesmo responsável realçou que o Capítulo 11 da Lei de Falências dos EUA, a que a empresa recorreu, lhe dá “as melhores oportunidades para maximizar valor em duas partes críticas” da sua tecnologia: “as patentes de captura digital, que são essenciais para uma vasta gama de aparelhos móveis e outros aparelhos de electrónica de consumo”, e as tecnologias de impressão e armazenamento de imagem, “que dão à Kodak uma vantagem competitiva” no crescente negócio digital.
Mas a empresa tem sido criticada justamente por, há cerca de uma década, não ter iniciado com o vigor necessário a transição para o digital.
“São uma empresa presa no tempo”, disse um professor da Universidade Reyrson de Toronto, Robert Burley, citado pela Bloomberg. “A sua história era tão importante para eles, esta rica história centenária em que fizeram muitas coisas espantosas e muito dinheiro pelo caminho. Agora a sua história tornou-se um passivo”, acrescentou.
A Kodak, símbolo do capitalismo norte-americano, foi criada por George Eastman, que inventou o filme fotográfico, e chegou a Portugal em 1919. O primeiro produto da Kodak no país foi a câmara Brownie, lançada em todo o mundo, a um dólar, em 1900.