BÉLGICA DIVIDIDA

já chamado o "rei da Flandres", Bart De Wever festeja a vitória do partido nacionalista

A vitória histórica dos independentistas da Flandres promete agravar a crise entre francófonos e flamengos. Até pode ter sido a maior vitória de sempre dos independentistas flamengos - 29,5% dos votos na Flandres -, mas as legislativas de Domingo na Bélgica podem dar ao reino o seu primeiro chefe do Governo francófono desde 1971. Este é apenas um exemplo das contradições que caracterizam a política belga. E que, depois do sismo político que constituiu a vitória da Nova Aliança (NVA) de Bart de Wever nestas eleições, se arriscam a agravar a crise entre francófonos e flamengos que está a pôr em causa a unidade do país, independente desde 1830. "Os flamengos [59% da população] votaram pela mudança, não vamos desiludi-los. O Estado tem de ser reformado", afirmou De Wever em Bruxelas, diante de uma multidão de apoiantes eufóricos. Apesar da vitória inequívoca, o líder do NVA admitiu que "70% dos flamengos não votaram em nós" e que o NVA terá de "criar pontes com outros partidos". Além disso, o historiador sublinhou a necessidade de se aproximar dos francófonos (40% da população). Na Flandres, a NVA surge destacada à frente dos cristãos-democratas da CD&V do actual primeiro-ministro, Yves Leterme. Esta obteve apenas 18,3% dos votos segundo os primeiros resultados.

O Open VLD, que provocara estas eleições antecipadas ao abandonar a coligação governamental, ficou-se pelos 14,5% dos votos, enquanto o Vlaams Belang, de extrema-direita, obteve 12,5%. Na Valónia, francófona e que vota em partidos diferentes, o Partido Socialista venceu estas eleições com 36% dos votos. Os socialistas surgiram à frente do Movimento Reformador (MR), com 24%, do partido centrista CDH, com 16%, e dos ecologistas, com 14%. Apesar destes resultados, o líder do PS, Elio di Rupio, poderá ser convidado pelo NVA para ser primeiro-ministro. Se tal acontecer, será o primeiro francófono no cargo em 40 anos. Isto depois de negociações para formar o Governo, que se adivinham longas e difíceis. Cansados de "subsidiar" o Sul, os flamengos endureceram a sua tendência de voto. Estes falantes de holandês denunciam a má gestão dos francófonos, que por seu lado os acusam de falta de solidariedade. As tensões fazem temer o estilhaçar do país que assume a presidência da UE a 1 de Julho.