não contentes com a destruição social já causada, os banqueiros querem mais sangue...
O novo presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, deu ontem um sinal de que o banco poderá dar uma resposta mais assertiva à crise do euro se os países fizerem um "pacto orçamental" com regras ainda mais exigentes para o défice e a dívida. As declarações de Draghi no Parlamento Europeu surgem numa altura em que ministros das Finanças da zona euro e economistas são quase unânimes ao afirmar que só o BCE tem poder de fogo para travar no curto prazo a crise que ameaça a moeda única.
A Alemanha está a forçar uma revisão agressiva dos tratados, para incluir regras mais duras e sobretudo um nível de vigilância orçamental (e de poder sancionatório) muito apertado. O ministro da economia germânico, Phillipp Roesler, apontou ontem que os países têm de estar preparados para perderem soberania orçamental. Roesler, que faz parte de um dos partidos mais conservadores (o FDP) da coligação liderada por Angela Merkel, propõe um limite de 2% para o défice orçamental (abaixo dos 3% do Pacto de Estabilidade) e sanções automáticas para os incumpridores que podem incluir congelamento dos fundos estruturais e perda dos direitos de voto em decisões europeias.
Berlim quer ainda que a Comissão Europeia tenha direito de veto sobre os orçamentos dos estados-membros antes de serem votados no parlamento. Sobre o papel do BCE, o ministro alemão – que cola a sua opinião à de Angela Merkel – considera que a instituição "vai tomar as decisões que encara como acertadas". Fonte comunitária explica ao i que a institucionalização desta disciplina orçamental é um passo decisivo para a Alemanha poder aceitar medidas de urgência credíveis, como o envolvimento dos recursos financeiros do BCE (a máquina de fazer dinheiro) no combate à crise. A "ordem sequencial" de que Draghi fala é esta: primeiro acertam-se as regras, depois virão as ajudas. O maior envolvimento do BCE – pedido abertamente esta semana por vários ministros das Finanças do euro na reunião do Eurogrupo – parece estar a caminho de acontecer. A oito dias da cimeira europeia de líderes – apontada pela própria Comissão Europeia como sendo decisiva para a sobrevivência da moeda única – a gravidade da crise está a empurrar a Alemanha, a França e o BCE para o caminho de uma maior integração orçamental, feito sob pressão e enorme falta de tempo. Itália e Espanha aguentarão pouco tempo os juros que o mercado de dívida soberana fixa actualmente (baixaram ontem assim que foram divulgadas as afirmações de Mario Draghi), o contágio alastra a outros países e há o risco cada vez maior de uma corrida aos bancos e de paralisação dos canais normais de financiamento no sistema bancário.