IGREJA: ACTUAL MODELO ECONÓMICO PORTUGUÊS É "INDECENTE"

bispo D. Carlos Azevedo atento e crítico à actuação política face à pobreza

O presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social, o bispo D. carlos Azevedo, classificou no passado dia 14.09.2010 como "indecente" o actual modelo económico, considerando que "agrava a pobreza e a exclusão social", na abertura da XXVI Semana da Pastoral Social, em Fátima. "Não são as pessoas que estão ao serviço da economia mas a economia que está ao serviço das pessoas e dos povos, ao serviço do bem comum, sem deixar de lado os vulneráveis", acrescentou. Criticando o capitalismo que "fez muitas vezes da mão de obra mera mercadoria", Carlos Azevedo sustentou que as instituições da Igreja Católica têm de ser "os primeiros praticantes de um modelo nascido da lógica do dom e marcado pela verdade". O presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social acrescentou que "não ganhamos nada com medidas legislativas que favoreçam os nossos valores se não recuperamos a dimensão religiosa e não vencermos a crise da fé". Dirigindo-se aos cerca de 500 participantes na abertura da XXVI Semana da Pastoral Social, Carlos Azevedo disse-lhes que estão "chamados a reinventar o espaço público como lugar de deliberação e de diálogo em comum" e que não devem abdicar "dessa intervenção política, decorrente do modo cristão de estar na sociedade".

O bispo auxiliar de Lisboa frisou que "as organizações sociais não são meras agências de serviços", mas têm "uma função ética, política e relacional", num momento em que "a desmoralização da sociedade ganha terreno" e que o "desânimo" atinge dirigentes e voluntários das organizações sociais. "As consequências sociais da crise vão continuar a afectar os mais pobres durante vários anos, de forma mais intensa", disse Carlos Azevedo, defendendo a promoção de "soluções colectivas para problemas comuns" perante o predomínio do "salve-se quem puder". A Semana da Pastoral Social, dedicada ao tema "Dar-se de verdade: Para um desenvolvimento solidário", termina na quinta-feira e vai dedicar-se à reflexão sobre as bases e as causas da crise social.