ESTADO DE POLÍCIA - XII: EGIPTO E TUNÍSIA CAMINHAM PARA A REVOLUÇÃO

argélia, tunísia e egipto, revolução mediterrânica iminente

A noite esteve ao rubro, na praça Al-Tahrir, no centro do Cairo. Granadas de gás lacrimogéneo, canhões de água e 30 mil membros das forças da ordem mobilizados para dispersar os cerca de 15 mil manifestantes. Contagiados pela brisa de esperança que sopra da Tunísia, os egípcios estão na rua: exigem a demissão do presidente Hosni Mubarak, no poder há três décadas. “Os polícias tratam-nos como cães”, diz um manifestante, que acrescenta: “Deus vai puni-los!” Num país onde mais de 40% da população vive com menos de dois dólares por dia, os manifestantes estão determinados: “Vamos continuar o que começámos ontem. Vamos ficar aqui até que consigamos fazer cair o regime.” “Abaixo, abaixo Hosni Mubarak” é o principal ‘slogan’ gritado nas ruas do Cairo. O outro mais ouvido é o que exige “pão, liberdade e dignidade”, um ‘slogan’ já gritado na vizinha Tunísia. O presidente Hosni Mubarak está no poder desde 1981. Estão previstas eleições em setembro mas os egípcios receiam que o poder passe diretamente para o filho, Gamal Mubarak.

O batalhão de choque da polícia tunisiana lançou nesta quarta-feira bombas de gás lacrimogéneo contra um grupo de manifestantes, que tentava furar o bloqueio a um dos acesso à esplanada onde funciona o gabinete do Primeiro-ministro em Túnis. O governo de transição da Tunísia prevê anunciar nesta quarta-feira uma reestruturação dos seus quadros, na esperança de acalmar a revolta popular contra a presença de várias figuras do antigo regime de Zine El Abidine Ben Ali. A polícia recorreu ao gás lacrimogêneo para afastar um grupo de manifestantes que havia arrancado com as mãos uma primeira barreira de proteção do acesso e lançava pedras contra os seguranças. A Tunísia começou a viver um forte turbulência social há cerca de quatro semanas, quando jovens e estudantes iniciaram protestos contra os altos índices de desemprego na ruas da capital Túnis. As manifestações logo tomaram vulto e assumiram uma conotação política, criticando a falta de liberdade política no país. O governo viu-se obrigado a agir.
O então presidente Ben Ali anunciou o encerramento de universidades e escolas, enquanto o Exército saía às ruas para controlar as manifestações.