IRA, RAIVA E FÚRIA IRRACIONAIS LEVARAM RENATO SEABRA A DESFIGURAR E MUTILAR

audiência será no quarto; psiquiatras consideram que Renato não está ainda em condições

A equipa de médicos do Hospital Bellevue, em Nova Iorque, considera que o jovem português está incapaz de perceber a gravidade do crime de que está indiciado. Os psiquiatras apontam para uma perturbação psicológica, anterior ou na sequência do brutal homicídio do cronista. Renato Seabra vai ser ouvido hoje por um juiz e por uma procuradora responsável pela acusação e pelo advogado de defesa. O jovem modelo vai ser interrogado pela primeira vez por um juiz, na presença dos médicos. O crime que que está a chocar os portugueses, já foi esquecido pelos jornais norte-americanos. Mas a justiça continua empenhada em solucionar e julgar o caso. A SIC ouviu um antigo procurador de de justiça, Tony Castro, que esclarece que a linha de defesa do jovem português será a de "insanidade temporária" o que pode "reduzir a pena". Ainda assim, Tony Castro não acredita que o Renato Seabra cumpra menos de 20 anos e só depois do cumprimento da pena é que o jovem será extraditado para Portugal.

Segundo algumas informações libertadas apenas agora pela polícia, o cadáver de Carlos Castro estava tão mutilado que só foi reconhecido pelo cabelo e formato do rosto. Um cenário de horror – foi o que as irmãs de Carlos Castro, Amélia e Fernanda, encontraram no primeiro dia em Nova Iorque, quando se deslocaram à morgue do hospital Bellevue para reconhecimento do corpo. Na mutilação, Carlos Castro, de 65 anos, "perdeu os dois olhos, não foi só um". O impacto "foi estrondoso" para Amélia e Fernanda, que "entraram em choque", conta Cláudio Montez. Isto no mesmo edifício, o Hospital Bellevue, onde se encontra Renato Seabra, que já confessou ser o autor do brutal homicídio. Está detido sob observação médica e à guarda da polícia nova-iorquina, na ala prisional. A família de Carlos Castro foi cumprir o formalismo legal na terça-feira ao final da tarde, já noite avançada em Lisboa, depois de ter sido recebida no aeroporto por Vanda Pires, ex-mulher do jornalista Luís Pires, e pela filha destes e por outros portugueses, que os conduziram ao hospital. A diligência foi acompanhada por um elemento da polícia.

Amélia, Fernanda e Cláudio Montez esperavam ontem ser ouvidos no âmbito da investigação, para dar conhecimento às autoridades do que consideravam ser uma relação afectiva normal entre vítima e homicida – com Renato, 21 anos, a partilhar a vida com o cronista, 44 anos mais velho, de uma forma inteiramente voluntária. Mas tal não foi possível, uma vez que ainda não há certidão de óbito. Falta fazer um exame médico-legal. O corpo de Carlos Castro foi ontem à tarde cremado no cemitério de Rosedale, numa cidade perto de Newark, onde repousava numa casa funerária local desde quarta-feira de manhã. Os restos mortais foram transportados para o cemitério de Orange, em New Jersey, ao início da tarde onde se deu a incineração. As cinzas do jornalista foram guardadas numa urna de madeira e entregues às irmãs de Castro. As irmãs do cronista assassinado depositarão as cinzas amanhã de manhã no cemitério de Trinity, na zona de Riverside. Metade das cinzas vão ficar em Nova Iorque, o mais próximo da Broadway por não ser possível, por motivos legais, espalhar as cinzas em Times Square. A outra metade das cinzas será transportada pelos familiares para Portugal, para que a família "que não pôde estar presente possa também participar numa cerimónia" a realizar em Lisboa, onde estarão presentes personalidades e amigos pessoais de Carlos Castro.

O processo judicial que envolve Renato deverá durar entre cinco meses e dois anos, segundo Paul Da Silva, advogado criminal em Nova Iorque. "É difícil apontar uma data, dada a complexidade do processo mas, de forma geral, nos EUA estes casos duram entre cinco meses e um máximo de dois anos. Se houver acordo entre acusação e defesa, que seja especialmente favorável para o arguido, até pode demorar menos de cinco meses", explicou ao CM. Nos últimos meses, Renato teve acesso a uma vida de luxo que nunca antes tivera possibilidade de conhecer. Ao lado de Carlos Castro conheceu algumas das figuras ilustres da sociedade. O cronista fez questão de o apresentar a Rosalina Machado, empresária e ex-presidente da Ogilvy, e à socialite Vicky Fernandes. Marcou um almoço num restaurante de Lisboa. O modelo viajou de Coimbra (a mãe levou-o à estação de comboios) até à capital e durante a refeição pouco falou. "Disse ‘olá’, ‘tenho de ir apanhar o comboio para voltar a casa’ e ‘adeus, foi um prazer’", conta Rosalina Machado, ainda chocada com a morte do amigo. "Fiquei com a impressão de que o Renato era um rapaz tranquilo e tímido. Nada fazia prever que pudesse acontecer uma coisa destas", relata, acrescentando: "Durante o almoço houve um único senão. O Carlos só dizia ‘ele é muito humilde e não conhece o mundo. É tão bom rapaz". (in, http://www.cmjornal.xl.pt).