DIRECTOR FMI: ESTABILIDADE ECONÓMICA DE PORTUGAL EXIGE CLASSE MÉDIA FORTE

Strauss-Kahn diz que sem classe média fortalecida Portugal não recuperará do FMI

O director do FMI cita Aristóteles para sublinhar que a estabilidade económica de um Estado depende de uma classe média forte. "Há alguns milhares de anos, Aristóteles escreveu que a melhor parceria num Estado é a que opera através de pessoas de classe média... os Estados onde a classe média é grande ... têm todas as hipóteses de ter uma boa gestão", parafraseou Strauss-Kahn numa comunicação de hoje sobre a crise global do trabalho. Diz Strauss-Kahn que este princípio "era verdade no tempo de Aristóteles, era verdade na época de Keynes, e é verdade actualmente". "A estabilidade depende de uma classe média forte que possa aumentar o consumo. Não conseguiremos isto se o crescimento económico não conduzir à criação de empregos decentes, nem se o crescimento recompensar a minoria dos mais favorecidos em detrimento dos numerosos marginalizados", indica o director do FMI. No mesmo discurso, disponível no site do FMI, Dominique Strauss-Kahn alerta que o desemprego e a desigualdade podem minar todas as conquistas da economia de mercado, "lançando as sementes da instabilidade". "Em demasiados países, a falta de oportunidades económicas pode conduzir a actividades improdutivas, instabilidade política e até situações de conflito", indica Strauss-Kahn, exemplificando com as recentes tensões nos países do Médio Oriente e Norte de África. Strauss-Kahn revela-se "preocupado" com os níveis históricos do desemprego. "O crescimento - pelo menos nas economias avançadas - não está a criar empregos", nota, recordando que "a crise atirou para o desemprego 30 milhões de pessoas" e que "mais de 200 milhões estão actualmente à procura de emprego em todo o mundo". "Em demasiados países, também a desigualdade está em máximos recordes", alerta.

Contra o desemprego, Strauss-Kahn indica o caminho a seguir para travar a batalha no mercado de trabalho. "Primeiro que tudo, precisamos de uma reforma e recuperação do sector financeiro, de colocar os bancos ao serviço da economia real e canalizar o crédito para as pequenas e médias empresas - que são os ‘drivers' fundamentais do emprego e também do crescimento", ensina Strauss-Kahn. Ao mesmo tempo, "os países desenvolvidos precisam de colocar as suas contas públicas num caminho de sustentabilidade no médio prazo, de forma a preparar o caminho para um crescimento futuro e criação de emprego". Alerta ainda Strauss-Kahn que os ajustamentos fiscais devem ser feitos sem descurar o crescimento económico. "Mas o crescimento económico também não é suficiente" por si, adianta o responsável, que acrescenta que é preciso "políticas de trabalho directas". "A crise ensinou-nos que políticas de trabalho bem concebidas podem salvar empregos", argumenta. Strauss-Kahn nota ainda que subsídios de desemprego adequados são fundamentais e que "quando combinados com educação e formação podem ajudar os desempregados a adaptar-se a uma economia em mudança". "Temos de ser pragmáticos" e ultrapassar a oposição entre flexibilidade e rigidez no que respeita o mercado laboral, argumenta. "Temos de ser cooperantes", diz também, sublinhando que os "países têm de trabalhar em conjunto".