Num artigo intitulado "A sociedade da devassa", publicado a 11 de Dezembro na revista do Jornal Expresso acerca do Wikileaks e de Julian Assange, Miguel Sousa Tavares dizia: «Vivemos, de facto, tempos em que a liberdade de informação serve de abrigo para toda a espécie de heroísmos fáceis: eu sou responsável e responsabilizado por tudo o que escrevo e assino - e assino tudo o que escrevo. Mas, no território sideral da net, nos blogues onde proliferam os anónimos de toda a espécie, os ressabiados, os caluniadores ou os simplesmente cobardes, a responsabilidade é zero e a liberdade é total. Que espécie de liberdade será essa? O mesmo direito sagrado à liberdade de informação, ou o que se invoca ser tal, leva, entre nós, a esse espectáculo decadente eticamente, que é a revelação de todas as escutas telefónicas realizadas ao abrigo de processos judiciais em curso, sem que nenhuma autoridade lhes ponha cobro ou até se incomode já com a ocorrência».
«O Wikileaks era o passo seguinte e previsível desta filosofia de que vale tudo, nada é segredo, nada é reservado, tudo é devido, tudo é interesse público, tudo é liberdade de informação. [...] A diferença é que o Wikileaks mexe com coisas mais sérias e é tudo menos inocente. O seu objectivo é claramente o de desarmar a única superpotência ocidental, num mundo tripolar, onde esse desarmamento unilateral não passará sem consequências. E eu, se me é permitida a escolha e enquanto for vivo, prefiro viver numa democracia ocidental do que numa chinesa, russa, norte-coreana ou iraniana. E também sei que, com todos os seus defeitos e imperfeições, todos os erros e vilanias, os Estados Unidos continuam a ser o garante militar da sobrevivência da civilização ocidental. Ou, dito mais simplesmente, o garante da liberdade e da paz relativa em que vivemos».