Bloco de Esquerda e PCP convergiram na passada 6.ª feira na urgência de um governo de esquerda para fazer face ao período negro social e económico que está para vir pela implementação de duras medidas económicas pelo FMI. Esta foi a conclusão de um encontro inédito das duas forças no Parlamento. Unidos contra uma política de bancarrota e de FMI que atingirá os mais vulneráveis, comunistas e bloquistas põem para já de parte uma coligação pós-eleitoral na margem esquerda do hemiciclo. Após uma reunião solicitado pelo BE que se "insere nesse caminho de diálogos tão necessários entre forças distintas”, Francisco Louçã instou ao ressurgimento de uma esquerda que se erga num "governo contra a bancarrota". O coordenador nacional do Bloco de Esquerda falava aos jornalistas no Parlamento para sublinhar este caminho como única saída para a actual situação do país. O dirigente bloquista ilustraria esta ideia com o comentário: "O PS está hoje a propor em Budapeste a redução das pensões dos reformados, a redução dos salários. Jerónimo de Sousa comentou: também “Há muitos homens e mulheres, portugueses preocupados com o futuro do país, que procuram dar uma contribuição para travar este rumo. Em relação ao BE, é preciso que clarifique os seus objectivos, mas não temos nenhum preconceito em considerar que existam portugueses também preocupados com a situação, dispostos a fazer um esforço para esse governo patriótico e de esquerda”.
O órgão máximo do PCP considerou que a formação de um “governo patriótico e de esquerda” é um “imperativo inadiável” e recusou a ideia de um “governo de salvação nacional” constituído pelo PS, PSD e CDS-PP, “aqueles que têm enterrado e querem continuar a enterrar o país”. Jerónimo de Sousa insistiu que a chamada “ajuda do FMI” não é uma ajuda, é um “perigo” para a soberania, direitos sociais, sector público, para o emprego e para os salários. “Apetece-me dizer que o que o PS e o PSD propõem é apenas a escolha da árvore em que o país pode ser enforcado. Nós não aceitamos nem FMI nem essa ajuda entre aspas que procura por em causa a nossa soberania”, afirmou. As direcções dos dois partidos de esquerda realizaram o encontro na Assembleia da República para consultas mútuas sobre crise política e social. A reunião foi proposta pela Comissão Política do Bloco de Esquerda e aceite pela direcção do PCP. Para Jorge Costa, dirigente do Bloco, “a troca de impressões realizada é muito importante e vem na sequência de múltiplas convergências na recusa da política do FMI que já está a ser aplicada em Portugal”. Recorde-se que na sexta-feira o coordenador do Bloco, Francisco Louçã, anunciou que vai propor à VII Convenção, de 7 e 8 de Maio, uma estratégia de unidade à esquerda, no sentido de diálogos com o PCP, sindicalistas e socialistas. “O caminho que faremos é para desenvolver a capacidade de aproximação entre os distintos sectores da esquerda, sabendo que, no Parlamento e na vida social, nos temos encontrado na recusa da recessão, com o PCP, com sindicalistas, com trabalhadores e activistas sociais que são independentes, com gente que se tem abstido e com muita gente que tem votado no PS não aceitando hoje as políticas de recessão”. Na mesma linha, Louçã observou ainda que “na luta contra as medidas liberais e em defesa dos salários e do emprego, PCP e BE têm tomado posições convergentes”.