RELATÓRIO DO BANCO DE PORTUGAL PREVÊ ANOS NEGROS

em resumo: menos salários, mais desemprego, menos consumo, mais ruina económica

O impacto recessivo do corte de metade do subsídio de Natal poderá não agravar a recessão prevista para este ano, mostram as previsões do Banco de Portugal, publicadas hoje no Boletim Económico de Verão. A medida adicional para a redução do défice orçamental terá um efeito negativo no consumo, mas este tenderá a ser compensado por outros factores, como um crescimento das exportações acima do esperado. O banco central, que destaca a incerteza que envolve estas previsões, prevê uma contracção de 2% da economia portuguesa este ano e de 1,8% em 2012, naquele que ainda assim será o maior recuo combinado na história da democracia portuguesa. "Por outro lado, as exportações foram revistas em alta, reflectindo as hipóteses relativas à procura externa dirigida à economia portuguesa, bem como o impacto da informação mais recente que se revelou mais favorável do que o antecipado", acrescenta. Esta informação mais recente diz respeito a uma quebra inferior ao esperado no consumo das famílias no segundo trimestre do ano. A quebra foi significativa - o banco central confirma até que o segundo trimestre será, sem surpresas, de contracção da economia - mas não houve o colapso na procura privada que os técnicos da troika estimavam como reacção ao anúncio do programa.

Isto faz com que, no final, a previsão do Banco de Portugal seja menos pessimista do que a da troika (-2,2% este ano e -2% em 2012), feita antes do lançamento das medidas adicionais. Mas mesmo no plano interno, há vários riscos: o impacto sobre a procura interna das medidas do plano da troika "é de difícil avaliação", tal como o seu efeito nas expectativas das famílias e das empresas. Por outras palavras, as medidas são muitas e transversais e não há historial de um choque desta magnitude. Este risco é um dos sublinhados pelo FMI como uma ameaça ao sucesso do ajustamento português. Na Grécia, a recessão este ano acabará por ser maior do que o recuo de 3% previsto - a Comissão Europeia espera que o PIB recue 3,75%. Os portugueses podem preparar-se para uma queda sem precedentes do consumo. A ideia do ajustamento, para o banco central, é precisamente essa: esmagar o consumo privado (que significa menos importação de bens e serviços), aguentar a sangria no investimento (enquanto a banca faz a sua dieta) e procurar compensar as perdas com a subida das exportações. As previsões do BdP mostram que este ajustamento já começou. De realçar é também a continuação da sangria no investimento, com perdas em todas as áreas de actividade. Em 2012, Portugal investirá em construção de casas apenas 42% do que investia em 2000, número que revela bem a paragem do sector. No Estado, a quebra entre 2010 e 2012 será de mais de metade.