A Estamo, empresa do grupo Parpública do sector imobiliário, comprou ao Estado e a outras entidades públicas mais de 200 imóveis no passado. Este património custou cerca de 360 milhões de euros. Estas aquisições deram ao Estado receitas extraordinárias que terão beneficiado o défice público de 2010. No entanto, o seu custo foi financiado com empréstimos do accionista que, por sua vez, é do próprio Estado. A Estamo recebeu mais de 400 milhões de euros de suprimentos, empréstimos do seu accionista, que é a sub-holding Sagestamo que por sua vez é controlada pela Parpública. Este financiamento, explica a empresa no relatório e contas do ano passado, “fica a dever-se fundamentalmente à necessidade de financiar as aquisições e contratos promessa de compra e venda de imóveis, dos quais 359,8 milhões de euros se referem a contratos efectuados em 2010 e 60,1 milhões de euros são relativos a 10 imóveis contratados em 2010, cujo pagamento só ocorreu em 2011”. No total, a conta acumulada de empréstimos contraídos pela Estamo junto da sua accionista directa, a Sagestamo, atingia no final do ano passado os 1.200 milhões de euros. Este valor corresponde grosso modo às aquisições de imóveis ao Estado e a entidades públicas realizadas pela Estamo nos últimos anos.
E como é que a Sagestamo obtém os fundos para financiar as suas participadas? – a Estamo é mais importante, mas não é a única. As contas de 2010 mostram que esta sub-holding também recorre à sua accionista. No final do ano passado, a Parpública tinha concedido suprimentos (empréstimos) de 377,8 milhões de euros, para além de dois apoios de tesouraria de 300 milhões de euros cada. No final do ano passado, a Sagestamo devia cerca de 801 milhões à Parpública, o dobro do valor em dívida em 2009. A sub-holding tem ainda um programa de papel comercial – dívida – de 300 milhões de euros contraído junto do Santander Totta que vence em Novembro deste ano. Seguindo a rota dos empréstimos accionistas chegamos às contas da Parpública. A holding do Estado tem duas principais fontes de receitas: os dividendos das participadas, algumas das principais empresas de capitais públicos, como a ANA, REN e EDP, e a venda de activos, sejam participações, sejam imóveis. Com o arrefecimento da economia e o congelamento de várias alienações, a Parpública teve de reforçar o recurso ao endividamento externo. Já este ano, a empresa recebeu um aval do Estado para um financiamento até 620 milhões de euros que foi justificado com a realização de operações no quadro do programa de gestão de património imobiliário, e com a compra de obrigações da EDP. O grupo deveria comprar este ano património no valor de 370 milhões de euros ao Estado e entidades públicas, mas as aquisições de imóveis públicos ascenderam apenas a 4,3 milhões de euros e referem-se à parte final do programa do ano passado. No relatório de 2010, a Parpública já tinha alertado para as crescentes dificuldades de financiamento e para o risco de não ser possível concretizar o plano de compra de imóveis deixado pelo anterior governo e que rondava os 370 milhões de euros. O novo executivo ainda não clarificou se vai prosseguir a política de compra massiva de imóveis que nos últimos cinco anos fizeram deste grupo de empresas o maior proprietário de imobiliário do Estado.