PASSOS COELHO COMPROMETE FUTURO DA COLIGAÇÃO COM PAULO PORTAS

Passos Coelho provoca a coligação com Paulo Portas até ao limite...

Passos Coelho convidou Santana Lopes para presidir à Santa Casa da Misericórdia sem ter previamente consultado o seu parceiro de coligação. Tanto Paulo Portas como o ministro da Segurança Social, Pedro Mota Soares, foram apanhados de surpresa com a escolha do ex-primeiro-ministro para provedor da Santa Casa. Como se pode ler nos estatutos da própria Santa Casa, a tutela da instituição "é exercida pelo membro do Governo que superintende a área da segurança social e abrange, além dos poderes especialmente previstos nos Estatutos, a definição das orientações gerais de gestão, a fiscalização da actividade da Misericórdia de Lisboa e a sua coordenação com os organismos do Estado ou dele dependentes". O facto de o ministro Pedro Mota Soares não ter sido "tido nem achado" no convite feito a Pedro Santana Lopes evidencia como o PSD está empenhado em não consultar o seu parceiro de coligação para quase nada. Mas além da escolha de Santana Lopes ter sido feita à margem do ministro da tutela, Pedro Passos Coelho decidiu dar um poder imenso ao ex-ministro das Finanças Braga de Macedo, que vai presidir ao novo instituto que resultará da fusão entre a Agência Portuguesa de Investimento (AICEP) e o IAPMEI (Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas e Inovação). Tendo em conta que Paulo Portas e Braga de Macedo não se falam, por causa de um velho processo quando Portas era director do semanário "O Independente", a relação tem tudo para ser explosiva. Na origem da desavença está o famoso caso Monte dos Frades, em que o ex-ministro das Finanças era acusado pelo jornal de ter recorrido a um subsídio para jovem agricultor. Braga de Macedo colocou Portas em tribunal e ganhou.

Tudo começou com a nega de Passos Coelho a uma coligação pré-eleitoral. Paulo Portas mostrou-se disponível para uma união antes das eleições, mas o líder do PSD apenas lhe garantiu que o levaria para o governo, com ou sem maioria absoluta. Depois da coligação, Portas quis ministérios importantes. Passos fez-lhe, à primeira vista, o gosto. Deu-lhe os Negócios Estrangeiros, o superministério da Agricultura e Ambiente e ainda a Solidariedade Social. Mas logo de seguida, retirou-lhes importância e colocou peões do PSD na sombra dos ministros do CDS. Paulo Portas fica, mês e meio depois de entrar no governo, sem a diplomacia económica. Depois, Pedro Mota Soares resume-se a ministro da Solidariedade Social, sem o peso do dossiê do Trabalho e das contribuições da Segurança Social. Ao CDS restou apenas, sem grandes mexidas, o superministério que junta a Agricultura - tema querido dos centristas - o Ambiente e o Mar - uma ideia (quase) imposta pelo Presidente da República. Além do esvaziamento dos ministérios sob tutela dos centristas, Passos não deu a Portas o cargo de vice-primeiro-ministro. Nem tão pouco o transformou no primeiro ministro de Estado. Em caso de ausência do primeiro-ministro, diz a orgânica do governo, é Vítor Gaspar, ministro de Estado e das Finanças, a assumir o papel de líder do governo. Uma regra que já acontecia no executivo de Sócrates, mas Passos não alterou a norma para satisfazer o parceiro de governo. Como cereja no topo do bolo das intenções do PSD em relação ao CDS, Passos Coelho deixou Paulo Portas de fora do Conselho de Estado. O líder do CDS já tinha feito parte do órgão consultivo do Presidente da República aquando das anteriores coligações PSD/CDS, mas desta vez fica à porta do Palácio de Belém. O líder do PSD preteriu Portas para o lugar e colocou na lista três ex-líderes do PSD, Luís Filipe Menezes, Marques Mendes e Francisco Pinto Balsemão. (in, Jornal i).