Pedro Passos Coelho mostrou a Júlio Pereira que o seu tempo como secretário-geral do Sistema de Informações da República (SIRP) acabou. Primeiro tornou público o encontro de ontem em S. Bento, que demorou pouco mais de uma hora. Segundo, fez saber também publicamente que lhe exigiu um inquérito "célere e profundo" à chamada "Lista de Compras", a operação levada a cabo pelo Serviço de Informações Estratégicas de Defesa (SIED), então dirigido por Jorge Silva Carvalho, hoje quadro da Ongoing, que obteve uma lista de chamadas e SMS efectuadas pelo então jornalista do "Público" Nuno Simas. Esta forma de humilhação pública antecede a sua demissão do SIRP. Mas Júlio Pereira não sairá sozinho. O i sabe que os directores do Serviço de Informações de Segurança (SIS) e do SIED, respectivamente Antero Luís e José Casimiro Morgado, também vão ser exonerados. O compasso de espera demorará o tempo que Júlio Pereira levar até concluir o inquérito. Pedro Passos Coelho ganha assim algum tempo para preparar a revolução nas secretas e também para avaliar com os seus conselheiros mais próximos as possíveis consequências dessa limpeza geral.
Admite-se que Jorge Silva Carvalho, no centro dos dois escândalos que abalaram o SIED - fuga de informações para a Ongoing e vigilância ilegal ao actual director de informação adjunto da Lusa -, reaja e ponha mais lenha numa fogueira que atingiu em cheio a credibilidade interna e externa dos serviços e dos seus responsáveis. Já sobre os novos nomes, as movimentações envolvem não só diversos ministros influentes e com uma palavra na matéria, casos de Paulo Portas e Aguiar-Branco, dos Negócios Estrangeiros e da Defesa Nacional, como elementos decisivos em todas as decisões do primeiro-ministro e que procuram estar bem dentro de um sector sempre apetecível para quem está no poder. A juntar a tudo isto aparece a presidência da República, que de forma discreta procura estar por dentro do processo e tenta influenciar tudo o que se vier a passar com o futuro dos serviços de informações da República. Isto para não falar das maçonarias e do peso que normalmente têm nos serviços secretos portugueses, uma tradição que motiva grandes lutas de bastidores e jogos de sombras no mundo discreto dos espiões.