CRISE E MISÉRIA NAS RUAS LEVA MAIS PORTUGUESES AOS BALNEÁRIOS PÚBLICOS

pobres mas limpos, é a dignidade possível num dos países mais corruptos da Europa

Os duches nos velhinhos balneários públicos de Lisboa, onde não se paga nem a água ou o sabão, estão a seduzir mais famílias devido à crise e ao desemprego. Em Alcântara, por exemplo, há mais de 10 mil peças de roupa para dar a quem mais precisa. Em Setembro, a média mensal de duches no balneário de Alcântara não chegava aos mil banhos. No mês seguinte, já se aproximava dos 1500 banhos e os gastos com o sabão duplicaram, garantiu Vítor Palmilha, da Junta de Freguesia de Alcântara. A subida mantém-se desde então. O balneário é um dos mais antigos da cidade e o que regista mais duches. Nos restantes, o número de utilizadores não tem subido de forma tão vertiginosa e é sobretudo frequentado por moradores do bairro. Em Alcântara, chega gente de toda a cidade, da outra banda, e muitos sem-abrigo, atraídos, talvez, pelas mais de 10 mil peças de roupa para oferecer e pela lavandaria social gratuita. Na Serafina, a roupa é lavada a custos simbólicos - os preços variam entre 1,5€ e 3€ -, mas os banhos continuam a ser gratuitos. Francisco Amadeu, um dos utilizadores, não tem pudor em revelar que usa o balneário para poupar na água e no gás. Já Rosária Cachimbel garante que só o faz quando o esquentador avaria.