O POLVO DO BPN

o BPN dá lucros a alguns, mas será um buraco negro para a maioria dos clientes

«O BPN é, na sua essência, uma criação do PSD, sendo que essa insana criatura envolveu nomes muito sonantes deste partido e, mais ainda, dos seus apoiantes e, também, de alguns dos habituais oportunistas da praça que estão sempre do lado dos poderes, sejam eles quais forem. Cavaco Silva não precisa de «nascer duas vezes» para ser correlacionado, também, com alguns dos actos e factos de alguns dos seus «ajudantes» nos vários governos a que presidiu e no partido que durante mais de uma década dirigiu. Nas suas altas funções, não poderia (nem pode) escolher ficar com os que lhe interessa e repudiar o desagradável. E estou certo que a sua superioridade moral não lho consente, apesar de, na política a verdade ser um poliedro. Nós somos, todos, de algum modo, sempre, responsáveis por quem elegemos para junto de nós, a quem damos responsabilidades e abrimos as portas do futuro, nomeadamente nos negócios. [...]

Acontece, também, que o BPN não é uma criatura qualquer, desenraizada da política e, sobretudo, independente de uma constelação de negócios, empresas e interesses politico-privados sem conta. Desde logo nada seria sem a holding que o obrigava, a SLN, veículo de negócios do «polvo» que tudo isso constituía. Ora muito me surpreende que o BPN tenha sido nacionalizado – isto é, os prejuízos – e que aquela holding continue, embora com outro nome!, a passar completamente ao lado da tragédia que o BPN fez explodir nas finanças públicas e, logo, nos bolsos de todos os contribuintes. Sou jurista e sou contribuinte, pelo que o que se me apresenta aos olhos não me deixa indiferente, até porque vou, também, ter de pagar o custo do descalabro do BPN sem receber dos lucros da SLN. E, aqui, há (diz-se) muito dinheiro, muito património, muita negociata escondida e, sobretudo, accionistas a apodrecer de ricos com um passado pouco lisonjeiro, tudo consagrado por uma incompreensível desconsideração jurídica de qu estamos perante um grupo económico. Cavaco, que modestamente, sempre se apresentou como alguém que nunca se engana e raramente tem dúvidas, talvez não tenha reparado que os milhafres são os mesmos na holding e no banco e, outros, com poderes governativos e de regulação terão esquecido, também esse facto. Ou não lhes convém abordá-lo neste tipo triste de endogamia em que sobrevivem os políticos.

O buraco sem fundo que um bando de oportunistas, disfarçados de banqueiros e de empresários de elite, gerou nas finanças públicas merecia uma posição firme de todos os que não vivem à sombra dos conúbios partidários. Em primeiro lugar, de Cavaco Silva. Mas isso não seria suficiente. É que não se compreende que quem detém o poder político e, alegadamente, se pretende impoluto e se diz paladino na luta contra a corrupção não dê um passo em frente e reclame a nacionalização da ex-SLN. Assim, o dito buraco do BPN poderia ser, ao menos parcialmente, tapado com o pêlo do mesmo cão. Coragem, senhores da política!» (Excerto do artigo de opinião do Advogado António Vilar, publicado na Vida Económica - in,
http://luminaria.blogs.sapo.pt/457978.html).