É mais uma daquelas bombas que, tarde ou cedo, vai explodir nos contribuintes. Facto que "não pode surpreender ninguém", conforme avançou ontem Silva Rodrigues, presidente da Carris, referindo-se às empresas de transporte CP, metros de Lisboa e Porto, Refer, STCP, Transtejo e Soflusa. Todas juntas têm uma dívida acumulada de 16 mil milhões de euros - que algum dia recairá nos contribuintes -, pouco menos de 10% do produto interno bruto português. "O sector está à beira do abismo mas isso não surpreende, não pode surpreender ninguém. Há muitos anos que caminhamos para a beira do abismo. É uma verdadeira bola de neve que está a rolar a uma velocidade vertiginosa, sabíamos todos que ia esbarrar contra uma parede um dia, mas não esperávamos que a parede fosse a situação que vivemos agora", lançou ontem Silva Rodrigues. "Claro que há má gestão em alguns casos. Existe sobretudo má gestão do accionista, existe sobretudo uma grande irresponsabilidade dos responsáveis políticos". "Veja-se o exemplo da contratualização do serviço público de transportes. Adiado por anos a fio, só quando o Eurostat ordenou a inclusão de alguns défices de exploração nas contas do Orçamento do Estado - uma das razões para as recentes revisões em alta dos défices dos anos 2007 a 2010 -, é que o governo acabou por dar os primeiros passos desta medida, apesar de ser há vários anos reclamada pelo sector". Uma das ideias que têm vindo a ser referidas como em estudo pela troika do FMI/BCE/Comissão Europeia passa precisamente pelo aumento dos preços dos transportes, uma porta agora aberta pela contratualização. As empresas públicas de transportes têm vivido com a corda da garganta nos últimos meses, já que estão sem acesso a financiamento, isto sem contar com os quase mil milhões de euros em reembolsos que enfrentam a curto prazo, e com os salários e demais custos operacionais.