ACORDO ANTI-CRISE DEIXA GOVERNO DE ANGELA MERKEL EM RISCO

Merkel e Sarkozy unidos de corpo e alma até ao fim do euro

A chanceler alemã Angela Merkel está a ser pressionada para chumbar a compra de obrigações dos países da zona euro pelo fundo de estabilidade europeu, acordada na reunião de emergência do dia 21 de Julho. Muitos elementos dos partidos que compõem a coligação governamental, os conservadores da CDU/CSU e os liberais do FDP, rejeitam as medidas anunciadas, que incluem a compra de dívida, concessão de empréstimos a países em dificuldades e a recapitalização dos bancos de várias nações. A oposição estende-se igualmente à decisão do Banco Central Europeu (BCE) de avançar sozinho para a compra da dívida emitida pela Espanha e pela Itália. Os maiores opositores das medidas de apoio ao euro são os liberais que integram a coligação governamental, numa altura em que se afundam cada vez mais nas sondagens e eleições regionais. A popularidade do FDP caiu dos 14% para 3% em apenas dois anos. O líder parlamentar dos liberais, Rainer Brüderle, afirmou ontem que o Bundestag (parlamento alemão) poderá pressionar para que sejam feitas emendas ao pacote acordado em Julho, de modo a evitar que a zona euro se transforme numa mera ‘união de transferência' de dinheiro da Alemanha para os outros países.

No mesmo dia, o secretário-geral do FDP, Christian Lindner, criticou severamente a decisão do BCE de comprar as obrigações dos países do Sul, uma vez que na prática isso constitui uma transferência da responsabilidade da dívida destes países para os contribuintes das maiores economias da zona euro, em particular os alemães. "O BCE está a recorrer a políticas que não são recomendáveis. O banco central não se pode tornar num agente envolvido" nas discussões políticas sobre a estabilidade da zona euro, disse Lindner, apoiando as críticas no mesmo sentido que também foram expressas pelo banco central alemão, o Bundesbank. Ao mesmo tempo, Philipp Missfelder, membro da direcção executiva da CDU, o próprio partido de Merkel, apelou à realização de uma "conferência partidária de emergência" sobre as medidas acordadas pelo governo nos últimos dias, afirmando que "o partido tem o direito de participar em decisões tão colossais" como as que a chanceler está a tomar. Todas estas críticas surgiram dois dias depois de Merkel e Sarkozy terem emitido um comunicado conjunto em que os dois líderes apelam a uma "rápida aprovação parlamentar" das medidas acordadas em Julho. Com a provável deserção dos deputados do FDP do bloco governamental, a aprovação destas medidas pela Alemanha está agora em sério risco. (in, Económico).