A procuradora Maria José Morgado e o especialista em corrupção Luís de Sousa alertaram no dia 16 de Abril em Mafra que a corrupção pode agravar-se caso as medidas de redução do défice impostas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) penalizem a investigação judiciária. A directora do Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) de Lisboa, Maria José Morgado, disse que “estamos no caminho da fraude e da pobreza”. Acrescentou também que “a corrupção gera sempre corrupção, fraude e pobreza quando não é controlada”. Luís de Sousa, especialista em corrupção e presidente da Transparência e Integridade Associação Cívica e autor de várias propostas de combate à corrupção na Assembleia da República, alertou por seu lado que “os cortes orçamentais que o Estado vai ter devem ser feitos sem prejudicar o funcionamento da justiça e das inspeções do Estado”. Contudo, afirmou, “há medidas que vêm por bem porque vão cortar certas condições propícias à corrupção”. E sublinhou que, além dos cortes impostos, o FMI deverá exigir “mais rigor e mais fiscalização”, por estar convicto de que este “não quer que se repita os erros da despesa descontrolada”. Para Maria José Morgado a corrupção “está na origem do desastre económico português” e do aumento do défice do Estado. “A crise internacional foi a gripe no corpo canceroso da corrupção, que tem a marca da economia paralela, da fraude e evasão fiscais, do desperdício dos dinheiros públicos e da derrapagem nas obras públicas”, sustentou a diretora do DIAP. Pelo mesmo diapasão, Luís de Sousa considerou que a forma de funcionar da administração pública, caracterizada pela “corrupção, pela excessiva burocracia, pelo desvio de dinheiros, pelas leis pouco claras e pela justiça lenta”, não atrai investidores que querem regras claras. Para o especialista, a situação justifica a queda da economia portuguesa nos índices internacionais de competitividade da 28ª posição em 2000 para a 46ª uma década depois.