ESTRATÉGIA DA ISLÂNDIA "NÃO PAGAMOS" RESULTOU

Sigfusson, ministro islandês das Finanças distingue o seu "não pagamos"

Ao mesmo tempo que vão superando a crise, os islandeses alertam a Irlanda, Grécia e Portugal para não tentarem imitar o seu modelo de excepcional recuperação. As palavras de alerta proferidas anteontem pelo ministro islandês das Finanças, Steingrimur J. Sigfusson, são um soco no estômago para as nações europeias que continuam a lutar com recessões e défices explosivos no rescaldo da crise financeira global, ao mesmo tempo que vêem a Islândia a sair dessa crise sem esforço. A seu favor, a Islândia tem dois factores que nenhum dos países citados por Sigfusson têm: é uma nação pequena, de apenas 320 mil cidadãos, e tem uma moeda própria, cuja desvalorização funciona como ferramenta de equilíbrio das contas públicas. Uma queda de 80% da corôa islandesa face ao euro em 2008 conduziu o défice da balança comercial a um superávit em poucos meses. Os cortes nos gastos do governo fizeram o resto, ajudando a controlar o Orçamento, e actualmente a Islândia prevê um défice de 1,4% do PIB no final deste ano. O número é impressionante quando comparado com os défices registados pelos países europeus que estão a ter mais dificuldades em lidar com a crise (em Portugal, por exemplo, a meta da troika é chegar a um défice orçamental de 5,9% este ano). Entre outras coisas, "o que aconteceu" na Islândia foi a nacionalização dos três grandes bancos privados do país, que abriram falência dias depois do crash de grandes instituições norte-americanas como o Lehman Brothers.

O que o actual ministro define como "situação de emergência" não foi mais do que o não-pagamento das dívidas da banca, que acumulava 85 mil milhões de dólares em perdas à data da falência. A juntar a isto, o país tornou-se, no mês passado, no primeiro do mundo a sentar um ex-primeiro-ministro no banco dos réus por negligência e por não evitar uma crise que podia ter sido prevenida (leia aqui). Outro assombro para a Islândia actual é a questão, até agora pendente, do processo judicial contra o país levantado pelo Reino Unido e Holanda. Depois de, num referendo em Abril, 59% dos islandeses terem votado contra o pagamento das dívidas contraídas pelo Landsbanki nos dois países, no valor de 4 mil milhões de euros, os governos britânico e holandês decidiram levar o caso ao tribunal da Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA). Antes do início do julgamento, na passada sexta-feira, a organização decidiu que "a Islândia é obrigada a garantir o pagamento de uma compensação mínima aos depositantes no Reino Unido e na Holanda, de acordo com a Directiva de Garantia de Depósitos". O governo islandês - que condenou a decisão da população - tem agora três meses para começar a tomar medidas para pagar esta dívida de acordo com a directiva. Caso falhe, a primeira-ministra, Johanna Sigurdardottir, poderá ser a próxima política islandesa a sentar-se no banco dos réus.