Fernando Nobre queria, com o mesmo direito que assiste a qualquer cidadão com mais de 35 anos, ser presidente. Só não chegaria a Belém se alguém lhe desse um tiro na cabeça. Ninguém lhe deu um tiro na cabeça. Foram só os eleitores que não lhe deram os votos. Depois das eleições, Fernando Nobre prometeu que não ocuparia nenhum lugar oferecido por um partido. "Não aceito nenhum cargo partidário ou governativo. Está assente, determinado, não volto atrás." Deidicar-se-ia à cidadania. Não foi preciso passarem muitos meses para voltar atrás no que estava assente e determinado. Aceitou ser cabeça de lista do PSD por Lisboa. E como não é com pouco que se arranca um homem como Nobre da sua paixão pela cidadania, a candidatura vinha, coisa inédita, com a promessa pública de ocupar o lugar de presidente da Assembleia da República. Um lugar que nunca lhe poderia ter sido oferecido previamente pois tinha de ser votado em Asembleia, após tomada de posse do novo Governo de Passos Coelho. Ao presidente do PSD e ao primeiro-ministro indigitado só restou lamentar que a maioria dos deputados tenha chumbado a candidatura de Fernando Nobre à presidência do Parlamento desperdiçando a oportunidade de ter "um verdadeiro independente" nesse cargo. Numa declaração de dois minutos, nos Passos Perdidos do Parlamento, Passos Coelho acrescentou que respeita a decisão dos deputados e que vai apresentar na terça-feira um novo candidato do PSD a presidente da Assembleia da República, depois de ouvir os órgãos internos do partido. Fernando Nobre traiu os que nele depositaram esperança na cidadania contra a corrupção política. Na primeira oportunidade - talvez por estar endividado pela sua campanha à Presidência - Nobre vendeu-se ao partido que lhe "oferecia" mais condições. Depois "deu" os seus eleitores ao PSD e exigiu um cargo não exigível. Nobre é neste momento um dos mais tristes exemplos de como a nossa política nunca chegará longe e de como se mente aos eleitores fazendo exactamente o contrário na primeira oportunidade. Ao menos Nobre foi julgado em tribunal próprio: a Assembleia. "Case closed".