O Igespar recusou a classificação da linha do Tua como património nacional por considerar que o seu interesse cultural é reduzido dos pontos de vista arqueológico, arquitectónico, etnográfico, científico e técnico e industrial. Recentemente o processo de classificação foi oficialmente arquivado, por publicação em Diário da República no despacho assinado pelo Igespar no dia 4, o qual teve por base o parecer da Secção do Património Arquitectónico e Arqueológico do Conselho Nacional de Cultura proferido no dia 3. De acordo com este parecer, a linha ferroviária do Tua “não representa qualquer valor singular digno de referência”, considerando-se que a reabertura entre Tua e Cachão para fins turísticos e transporte público das populações não se justifica devido aos elevados encargos envolvidos. Com esta decisão, o Igespar e o Ministério da Cultura estão a legitimar o desaparecimento deste património ferroviário com mais de 120 anos de história, o qual será submerso numa extensão de 16 quilómetros pela barragem de Foz Tua, incluída no Plano Nacional de Barragens e que foi adjudicada à EDP sem concurso público. A linha do Tua é uma obra excepcional de engenharia devido à dureza do local escarpado onde foi construída, datada desde o longínquo ano de 1878, tendo levado anos a ser construída, causando mortes entre os trabalhadores, tendo merecido em diversas ocasiões a visita de reis, rainhas, ministros, bispos, artistas, entre outras personalidades da história do país. Além de ser uma linha ferroviária com particularidades próprias devido ao local onde se encontra, já foi considerada uma das mais belas da Europa pelo acesso a um conjunto de paisagens únicas e fabulosas do Douro Vinhateiro, classificado como Património Mundial, mas também pertencente à “unidade paisagística correspondente ao Baixo Tua e Ansiães e Terra Quente Transmontana”, contendo esta última “paisagens com um forte carácter, com uma identidade bem marcada, muito característica de uma faceta especial de Trás-os-Montes, reflectindo uma enorme potencialidade em termos culturais e turísticos” (PNBEPH).
É o acesso proporcionado pela linha do Tua a estas paisagens que todos os anos atraem muitos visitantes a uma das regiões mais deprimidas do país, potenciando o turismo e emprego, sendo um eixo estratégico para o desenvolvimento desta zona. Mas a linha do Tua também desempenha um papel fundamental na mobilidade da população e este aspecto não pode ser menorizado. Ela é um dos principais eixos de ligação dentro da região transmontana e faz a sua ligação ao litoral através da linha do Douro. São estas paisagens, a história, a memória, o significado do comboio no passado, mas também a sua importância no presente, que exigem a necessidade de investir e modernizar a linha ferroviária do Tua e não deixá-la morrer como quer o Governo e também o Ministério da Cultura. Aliás, a rapidez com que foi recusada a classificação da linha do Tua é surpreendente quando existe património em vias de classificação há décadas por todo o país ainda à espera de uma resposta do Igespar e do Ministério da Cultura. Tamanha eficiência em relação a este processo levanta dúvidas sobre se não terá sido uma resposta a interesses fortes que não aceitam o impedimento da barragem de Foz Tua. Também o facto de um dos dois relatores do parecer do Conselho Nacional de Cultura ser um elemento integrante da Comissão Nacional Portuguesa das Grandes Barragens levanta as maiores dúvidas sobre a seriedade de todo o processo.