O economista Ernâni Lopes morreu ontem, aos 68 anos, vítima de um linfoma. Ernâni Lopes não era um homem fácil. Mas poucos duvidam que possuía um apurado sentido de Estado e de missão que o tornavam especial. Oriundo de uma família modesta, recebeu uma formação austera, uma exigência de honestidade e de trabalho permanente. Algo que lhe ficou para toda a vida. Com hábitos de disciplina e dotado de uma mente afinada, distinguir-se-á na sua época ao completar o curso de Economia do ISEG com a nota mais elevada, 18 valores. Aos 40 anos, era ministro das Finanças. Ficará na História por várias razões. Ontem o Presidente da República, Cavaco Silva (seu colega na faculdade), evocou-o não só como um "dos mais conceituados economistas da sua geração", um "governante em tempos difíceis", mas também como um "dos grandes obreiros da nossa integração" europeia. Será recordado ainda por ter sido, em 1983, quando tutelava as Finanças, que Portugal e o FMI assinaram a carta de intenções. E no que toca ao dever não tinha relógio. Nas vésperas do cada Conselho de Ministros, era frequente sair do Terreiro do Paço, com o seu secretário de Estado do Orçamento, Alípio Dias, já de madrugada. Chegava a chamar os colaboradores para despachar a meio da noite. Era um adversário da mediocridade e do oportunismo político. Um patriota e, ao mesmo tempo, sem perda de coerência, um europeísta militante. Em 2006 diagnosticaram-lhe um linfoma. Henrique Granadeiro contou que Ernâni, então chairman da PT, "com toda a simplicidade fez uma declaração formal ao conselho para revelar que sofria de cancro e que vencê-lo seria a batalha da sua vida". "E disse-nos que estava convencido de que ia vencer." Os amigos recordam-no esgotado, após sair das sessões de quimioterapia, mas activo, sem alterar os compromissos. Ontem cederia perante o cansaço e a doença. Recordemos Ernâni numa das suas recentes intervenções: http://www.youtube.com/watch?v=Bd3ckKaTgbc.