MARINA COSTA LOBO: CONSEQUÊNCIAS DA GREVE GERAL

Marina Costa Lobo, politóloga, resumiu magistralmente a Greve Geral de ontem

«Ontem, pela primeira vez desde 1988, as duas centrais sindicais uniram-se numa greve geral. As primeiras projecções indicam uma adesão entre 80% e 90% nos serviços de educação, saúde e transportes públicos. Terá sido um sucesso do ponto de vista da participação, e contribuiu com certeza também para perdas do ponto de vista económico. Mas e do ponto de vista político, para que serviu ela exactamente? Em primeiro lugar, a greve geral, servirá para mostrar a nós próprios e ao mundo que a sociedade civil em Portugal existe, coisa que não era muito clara nos últimos tempos. Um pouco por toda a parte nos países mais afectados pela crise financeira o último ano tem sido marcado por manifestações. Algumas delas têm resultado em confrontos com a polícia. Esta greve cumpre assim objectivos simbólicos importantes, de protesto cívico contra o "status quo" cada vez mais deteriorado em que vivemos e pelo qual, individualmente, ninguém se sente responsável. Serve pois para salvar a face de uma sociedade civil tradicionalmente desmobilizada. Mesmo a Igreja Católica tomou partido pela mobilização, tendo sido feito um apelo a uma democracia mais participativa em que as instituições reflictam a vontade dos cidadãos».

«Ela vai servir, do ponto de vista externo para voltar a demonstrar as fragilidades deste Governo. E - o que é mais importante - lançar dúvidas sobre a capacidade de execução orçamental do mesmo. Já se sabia que o Governo era minoritário e que não tinha uma oposição que o apoiasse. Agora também se confirma que as principais associações sindicais, incluindo aquela com ligação umbilical ao PS, o abandonou. Para o líder da UGT, esta greve "não é contra o Orçamento do Estado, é contra as políticas do Governo que fizeram aumentar as desigualdades, reduzir salários e congelar pensões, violando os acordos da Segurança Social." João Proença não quer que o Governo caia, até porque não poderia ser substituído até Junho. O que quer é que mudem as políticas. Entre os partidos de Governo não vai haver ilesos, incluindo Cavaco Silva, se e quando o FMI entrar em Portugal». (in,
http://www.jornaldenegocios.pt).