FREITAS DO AMARAL "REABRE" CASO CAMARATE EM LIVRO

Freitas terá ocultado o fax da Interpol que avisava para um possível atentado à bomba

O ex-presidente do CDS e antigo ministro Freitas do Amaral aproveitou ontem o lançamento do seu novo livro Camarate: Um caso ainda em aberto, em Lisboa, no Centro Cultural de Belém, para "apelar" ao Parlamento que avance com uma nova comissão de inquérito a propósito da morte de Sá Carneiro e Amaro da Costa. "Retome-se a investigação que ia a meio e realize-se a que falta", defendeu Freitas do Amaral, depois de lembrar que os trabalhos da oitava comissão de inquérito haviam sido interrompidos pela dissolução "estratégica" da Assembleia da República em 2004. Neste "apelo", Freitas do Amaral acrescentou já não estar "só a pensar em Camarate". Para o ex-líder político, estava em causa a suspeita de outros crimes. "Saber se houve probidade no gasto de dinheiros públicos", explicou. O autor falava assim das suspeitas à volta do Fundo de Defesa Militar do Ultramar e da venda de material bélico a países estrangeiros. Considerou "incompreensível que um país que deixou de ter um Ultramar em 1975 tivesse, em 1980, um Fundo de Defesa Militar do Ultramar" que movimentava secretamente milhões de escudos em diversas contas bancárias, segundo dados que recolheu dos arquivos da oitava comissão parlamentar a Camarate. Citando um relatório preliminar da Inspecção-Geral de Finanças de 2004, Freitas do Amaral denunciou duas contas bancárias relacionadas com o fundo, em nome individual de duas pessoas que não conseguiu identificar, e que não estavam devidamente registadas na contabilidade.

Outra das dúvidas levantadas pelo autor relacionava-se com a extinção do Fundo de Defesa Militar do Ultramar. Freitas do Amaral encontrou o decreto-lei que assim o determinava, mas cujo conteúdo se revelava menos definitivo. Falava de uma comissão liquidatária encarregue de gerir as contas sem definir uma data para o fim de funções. E encaminhava as receitas do fundo para outras áreas das Forças Armadas. "O fundo não foi extinto naquela altura? Foi extinto por despacho? Será que já foi extinto?", perguntou o jurista. Freitas do Amaral confidenciou ainda ter feito movimentações, em 2006, quando era ministro dos Negócios Estrangeiros de José Sócrates, para que o Parlamento retomasse a investigação em relação ao fundo onde havia sido interrompida.
O mesmo resultado obteve em 2008, após uma entrevista dada a uma televisão. E explicou que o livro apresentado ontem era uma terceira tentativa sobre a mesma pretensão. Que deverá ter a mesma resposta dos partidos. Pedro Passos Coelho, actual presidente do PSD, admitiu "ponderar" a possibilidade de avançar com uma nova comissão caso venha a ser Primeiro-ministro, para depois deixar uma "certeza": "Não o faremos mecanicamente." Não deixa de ser curioso que seja o principal suspeito de envolvimento na conspiração da sua morte, a lançar um livro a pedir uma nova investigação. Afinal de contas Freitas do Amaral era Ministro dos Negócios Estrangeiros de Sá Carneiro e na noite anterior omitira um fax enviado pela Interpol avisando que um conhecido bombista especializado em fabrico artesanal de bombas teria viajado para Portugal. Todos os países para onde esse bombista viajava resultavam em ataques à bomba a estadistas ou figuras de relevo. Apontado por alguns como suspeito de conspiração, dadas as suas ligações à CIA, Freitas do Amaral acabou por ter uma posição de relevo no governo seguinte, após a morte de Sá Carneiro. Durante os dias que se seguiram à morte de Sá Carneiro, Freitas do Amaral viu a sua imagem política projectar-se exponencialmente, falando frequentemente em público e nos mídia. Tornava-se assim num 2º Mário Soares, no quebtoca a ppularidade política.