CENTRAL NUCLEAR DE FUKUSHIMA: UM MILHÃO DE JAPONESES PODEM MORRER

no futuro os decisores já não precisarão de guerras para matar milhões: basta criarem "acidentes"

As pessoas que viviam na zona evacuada em torno da central nuclear de Fukushima foram autorizadas a ir hoje às suas casas recolher alguns bens e verificar se está tudo bem com as propriedades. É a primeira vez que às cerca de 20 mil famílias é permitido voltar pelos seus meios à zona que o governo japonês interditou depois do sismo e tsunami de 11 de Março terem danificado a central nuclear de Fukushima. Nas visitas anteriores os residentes foram transportados até à zona em autocarros e sob inúmeras restrições. Muitos deles sabem que nunca mais poderão voltar a morar ali. Após ter divulgado várias informações contraditórias e falsas esperanças, o governo japonês, muito criticado pela forma como tem lidado com as consequências do acidente, admitiu na semana passada que a zona evacuada não poderá ser habitada pelo menos durante uma geração. "Não podemos descartar a possibilidade de que vá haver algumas áreas onde será difícil durante muito tempo os residentes regressarem às suas casas. Lamentamos muito", afirmou o porta-voz do governo, Yukio Edano. De acordo com Hiroyuki Wada, membro do governo envolvido na resposta à crise, citado pela Bloomberg, foi pedido às pessoas que entrassem na área aos pares para uma visita de quatro horas e foi-lhes dito que a Tepco, empresa responsável pela gestão da central nuclear, lhes forneceria equipamento adequado, tal como fatos de protecção e dosímetros (aparelhos que servem para medir as doses de radiações radioactivas). Segundo Satoshi Ohsumi, do centro de resposta de emergência da Agência para a Segurança Nuclear e Industrial do Japão, antes do desastre viviam cerca de 78 mil pessoas na zona evacuada de 20 quilómetros de raio em torno da central. Vários cientistas defendem que a situação é pior do que a provocada pelo acidente de Chernobyl em 1986. Ambas as catástrofes partilham o nível sete (máximo) na escala de desastres nucleares, no entanto, a física australiana e activista Helen Caldicott garante que em Fukushima os "horrores ainda estão por chegar". De acordo com o "The Independent", outro defensor desta visão mais alarmista é Chris Busby, professor na University of Ulster, que no mês passado gerou uma grande controvérsia quando afirmou, durante uma visita ao Japão, que o acidente ia resultar em mais de um milhão de mortes devido às fugas de material radioactivo. "Fukushima ainda tem a ferver os seus radionuclídeos [átomos com núcleos instáveis, que emitem radiação] para todo o Japão", afirmou. "Chernobyl aconteceu de uma só vez. Por isso Fukushima é pior", acrescentou. "A verdade é que não temos dados suficientes para fornecer informações rigorosas sobre o impacto a longo prazo" defende, Tim Mousseau, cientista que passou mais de uma década a investigar o impacto de Chernobyl na genética."O que podemos afirmar no entanto é que é muito provável que exista um impacto significativo a longo prazo na saúde devido à exposição prolongada", explicou, acrescentando que muitas pessoas em Fukushima estão a "enterrar a cabeça na areia".