Nunca ficou escrito no papel, que estas coisas são demasiado sensíveis para se registarem preto no branco. Mas o último ministro dos Negócios Estrangeiros de Muammar Kadhafi, Abdulati al-Obeidi - actualmente detido pelos rebeldes - disse agora ao enviado especial da BBC que, em 2009, as autoridades líbias deram a entender que a libertação de Abdelbaset al-Megrahi, um dos dois bombistas condenados pelo atentado de Lockerbie, poderia ajudar a BP a conseguir grandes concessões de petróleo na Líbia. "Houve a sugestão de que libertá-lo poderia ajudar mas não era uma condição", afirmou Al-Obeidi à BBC. "O lado líbio e, como sabe, os britânicos, sabem como levar as coisas", acrescentou. Entregue a moeda de troca ao então regime de Kadhafi, a BP conseguiu um dos mais vantajosos contratos para explorar reservas de petróleo líbias. O documento terá sido assinado durante uma viagem de Tony Blair ao deserto da Líbia. A BP admitiu no ano passado ter sido pressionada para assinar um acordo em troca da controversa libertação de um prisioneiro porque os atrasos poderiam danificar "interesses comerciais". No entanto, a petrolífera negou qualquer envolvimento no caso Megrahi. Imagens de Al-Obeidi em coma, ligado às máquinas, aparentemente nos últimos dias do seu cancro, foram ontem divulgadas - o governo britânico sempre disse que a libertação de Al-Megrahi, condenado pela explosão do voo da PanAm em 1988 sobre o céu de Lockerbie, na Escócia, que matou 270 pessoas, tinha sido por razões humanitárias.