no Verão de 2015 os ursos polares não terão gelo onde se albergar
O gelo que se forma no Árctico está a diminuir tão rapidamente que pode vir a desaparecer completamente durante o Verão dentro de quatro anos, se não mais cedo. O desaparecimento em massa do gelo polar tornou-se um dos indicadores mais visíveis da mudança climática e este ano atingiu-se um novo recorde mínimo na área desde 1979, de acordo com o National Snow and Ice Data Center dos EUA. A diminuição do gelo no oceano Árctico está a abrir novas rotas de navegação para a Ásia. E isso já se notou este Verão. “Isto é realmente incrível porque pela primeira vez os nossos navios mercantes foram usados nesta zona sem recurso a quebra-gelos”, disse ao i Alexei Poponin, porta-voz da MMC Norilsk Nickel, a maior empresa russa de navegação a operar no Árctico. As empresas de navegação que habitualmente ligam o Norte da Europa ao continente asiático estão a esfregar as mãos de contentes com a possibilidade de, durante a quatro a seis meses por ano, poderem enviar os seus navios através das rotas do oceano Árctico. Segundo cálculos das próprias, a rota do Árctico poderá poupar-lhes 180 mil a 300 mil euros em cada viagem, que poderá ser encurtada 22 dias. Além da economia de tempo, as empresas podem evitar os piratas somalis e os altos prémios de seguro que pagam pelas suas embarcações que passam pelo Canal do Suez. “A rota do mar do Norte será uma alternativa às rotas de navegação tradicionais em taxas de serviço, segurança e qualidade”, disse o primeiro-ministro da Rússia, Vladimir Putin, durante uma conferência na Sociedade Geográfica da Rússia em Setembro passado. Os especialistas marítimos canadianos e americanos calculam que 2% do transporte global poderá ser desviado para o Árctico até 2030, subindo para 5% até 2050. Por comparação, diga-se que o transporte através dos Canais do Suez e do Panamá representam actualmente 4% e 8% do volume transportado globalmente. Para os grupos ecologistas, no entanto, a utilização de rotas árcticas pode vir a acelerar o aquecimento global. Embora aceitem que encurtando as viagens os navios queimam menos combustível e emitem menos dióxido de carbono para a atmosfera, os ecologistas têm medo dos derramamentos de petróleo e de outros acidentes marítimos, como o carbono negro, os resíduos de fuligem da combustão incompleta do combustível que ficam depositados no gelo. Logo, o transporte árctico pode servir de acelerador poderoso das alterações climáticas.
O Árctico também se viu transformado nos últimos anos em alvo primordial para alguns países, desesperadas por deitar a mão às suas reservas de combustíveis. Um estudo geológico norte-americano de 2008 falava em 90 mil milhões de barris de petróleo por descobrir no Árctico e 44 mil milhões de barris de gás natural – 13% das reservas de combustíveis fósseis por explorar. É o Oeste Selvagem do século xxi. A Rússia, a Noruega, os Estados Unidos, o Canadá e a Dinamarca, todos querem uma fatia do fundo do mar Árctico. E todos estão ocupados a tentar ampliar os seus limites territoriais no Árctico para aproveitar as disposições da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, onde se diz que qualquer estado costeiro pode reclamar o território submarino da zona situada até 200 milhas náuticas de sua costa e explorar os recursos naturais dentro da mesma. Tratado que os EUA não ratificaram. Este Verão, a Rússia anunciou que vai apresentar um pedido formal à ONU no próximo ano, na esperança de redesenhar o mapa do Árctico de forma a conseguir uma fatia maior dos recursos da área. A ideia é começar a exploração das reservas de combustível árcticas. A Rússia disse que está a preparar-se para gastar milhões de dólares para provar que uma cadeia montanhosa submarina, rica em depósitos de petróleo, gás natural e minerais, é uma continuação da plataforma euro-asiática. Canadá e Dinamarca rejeitam a alegação, dizendo que a formação geográfica, conhecida como cordilheira de Lomonosov, que se estende através do mar Árctico, é uma extensão geográfica dos seus territórios. A Rússia reivindicou a cordilheira de Lomonosov junto da ONU em 2001, mas o pedido foi-lhe devolvido com a solicitação de provas das alegações. “O desacordo sobre os litorais do Árctico poderá levar a que os estados do Árctico individualmente se tornem mais assertivos nas suas reivindicações territoriais e de recursos, o que tem o potencial de levar à militarização do Árctico,” segundo o relatório sobre Interesses Estratégicos dos EUA no Árctico.