GOVERNO HOLANDÊS JÁ ESTÁ A PREPARAR-SE PARA O COLAPSO DO EURO

o ministro das finanças holandês já está a preparar o país para o pior cenário, o mais provável aliás

Jan Kees de Jager, o ministro holandês das Finanças, admitiu ontem perante os deputados do seu país que o governo se está a preparar para uma ruptura da eurozona. Embora tenha suavizado a brutalidade da declaração afirmando que essa ruptura “não é desejável” e que o seu governo fará tudo para a evitar, De Jager, interrogado sobre a existência de planos para uma eurozona mais pequena, assumiu que “todos os cenários estão em cima da mesa”. Os deputados pediram ao ministro acesso a mais informação sobre os possíveis cenários de ruptura e o ministro avançou que entregaria ao parlamento estudos produzidos pela OCDE e pelo FMI. “Percebo perfeitamente a necessidade de mais informação”, disse De Jager. A declaração do ministro das Finanças vem na mesma linha do discurso que o seu primeiro-ministro, Mark Rutte, fez na quarta-feira durante uma visita oficial a Londres. Aí Rutte assumiu que gostaria que alguns países saíssem do euro. “Gostaríamos que fosse possível que alguns países pudessem ser expulsos do euro”, defendeu o primeiro-ministro holandês, afirmando que os países-membros têm de estancar o fogo na zona euro. Não é a primeira vez que o governo da Holanda fala na expulsão de países do euro como saída de último recurso para países que não conseguem manter a disciplina orçamental. A verdade é que a pressão sobre as economias mais frágeis do euro já atingiu quase todas as outras economias – e a Holanda, até aqui reconhecida pelos mercados como tendo a segunda mais forte dívida soberana, a seguir à Alemanha, já está a ser atingida pelo nervosismo que afecta toda a eurozona.

A economia holandesa está à beira da recessão, com o PIB a contrair 0,3% no mais recente trimestre. Enquanto o partido antieuropeísta encomendou um estudo para discutir o regresso ao florim, o partido do governo já discute um novo euro – baptizado pelo presidente do think tank partidário com o nome de “neuro”, uma contracção de novo euro. Este novo euro, como é defendido na Holanda ao mais alto nível, só seria utilizado pelos países do Norte da Europa. Segundo o presidente do think tank, Patrick van Schie, este “neuro” não só excluiria a Grécia e a Itália – e naturalmente Portugal –, mas também a França. “O neuro nunca será uma moeda forte com os franceses”, defendeu van Shie. Ontem o pânico continuou a alastrar nos mercados, com os juros italianos novamente acima dos 7%. E o impensável aconteceu, com o incêndio do euro a propagar-se à França, à Holanda e à Áustria, que com a Alemanha constituem uma espécie de último reduto do euro. Ameaçada com a descida de rating, a França está em estado de choque. Uma porta-voz do governo apelou ontem ao Banco Central Europeu: “O papel do BCE é assegurar a estabilidade do euro, mas também a estabilidade financeira da Europa. Confiamos que o BCE tomará as medidas necessárias para assegurar a estabilidade financeira na Europa”, disse Valerie Pencresse. Angela Merkel respondeu, mais uma vez, com um não rotundo. A Alemanha não deixará o BCE apagar o fogo. “Segundo a nossa interpretação dos tratados, o BCE não tem a possibilidade de resolver estes problemas”, disse a chanceler alemã, para quem a saída para recuperar a confiança dos mercados passa por adoptar reformas e construir uma união política mais avançada, modificando os tratados. Também ontem Durão Barroso subiu o tom do dramatismo: estamos a viver “uma crise sistémica do euro”, disse o presidente da Comissão. (in, Jornal i).