Soares revelou: o BCE não empresta a pobres, pois pretende apenas ganhar fortunas em juros
Falando na conferência sobre o Futuro na Europa, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, Mário Soares afirmou que há uma “relativa conformidade” enquanto as manifestações forem dirigidas pelos sindicatos, porque fazem parte do “jogo político e social”.
“Mas desta vez deu-se um passo muito importante. Temos uma manifestação dos militares. E não é uma coisa fácil, é algo que deve impressionar as pessoas, que têm de refletir e têm de agir, dizendo o que pensam e insistindo para que as coisas tomem o seu caminho”, argumentou.
“E agora vamos cortar nas Universidades Públicas? Para irem lá para fora, como alguém já disse: vão para o estrangeiro. Mas isso é coisa que se faça? E o resto da nossa fortuna? Vamos vender as nossas jóias, as grandes empresas que nos dão lucro?”, questionou.
Mário Soares também instou a que se pense “para que servem os sacrifícios”.
O antigo líder do PS garantiu que, com os seus valores, “não tolera” que Portugal seja um dos países europeus com mais “desigualdades” e criticou o caminho dos “cortes no Serviço Nacional de Saúde, nas Universidades e no emprego”.
Mário Soares recordou que o apoio internacional “não foi uma esmola dada a um pobre”, mas um negócio que dará “fortunas” a quem emprestou o dinheiro.
“[Os elementos da troika] não podem vir governar o nosso país, não é essa a função de estrangeiro sobretudo quando não há um governo europeu. Porque é que eles mandam? Eu tenho as minhas dúvidas acerca disso”, afirmou.
Mário Soares defendeu uma “rutura” e o fim do domínio dos mercados: “Os mercados não podem mandar nos Estados, são os Estados que mandam nos mercados. Mas o que sucede é que muitos dos dirigentes dos Estados estão feitos com os mercados”.
O antigo dirigente não poupou criticas ao Tratado de Lisboa, que “nasceu velho, com deficiências e diz asneiras”, sublinhando a necessidade de ser alterado para dar mais poderes ao Banco Central Europeu.
“Os dirigentes vão compreender. A senhora Merkel [chanceler alemã], por mais tacanha que seja, e é bastante, e o senhor Sarkozy [presidente francês], por mais bailarino que seja, e também é bastante, vão perceber que tudo os empurra para sair da situação, senão serão vítimas”, disse.