por considerar que este não é o rumo para a Democracia e para a República Soares encabeça o Manifesto
Na véspera da greve geral convocada pelas centrais sindicais, nove personalidades, na maioria socialistas, assinam um manifesto a apelar “à participação política e cívica” contra “políticas de austeridade que acrescentem desemprego e recessão”. À cabeça dos signatários está Mário Soares. Sob o título “Um novo rumo”, o documento lembra “o recente recurso a governos tecnocratas na Grécia e na Itália” para ilustrar “os perigos” que pendem sobre “alguns regimes democráticos”. Evoca também a “rua árabe”.
“O recente recurso a governos tecnocratas na Grécia e na Itália exemplifica os perigos que alguns regimes democráticos podem correr na atual emergência”, sublinha o manifesto “Um novo rumo”. O documento, citado pela agência Lusa, não faz alusões explícitas à greve geral de quinta-feira. Mas apela à mobilização “política e cívica” para a “construção de um novo paradigma”: “É o momento de mobilizar os cidadãos de esquerda que se reveem na justiça social e no aprofundamento democrático como forma de combater a crise”.
“Os signatários opõem-se a políticas de austeridade que acrescentem desemprego e recessão, sufocando a recuperação da economia. Nesse sentido, apelamos à participação política e cívica dos cidadãos que se reveem nestes ideais e à sua mobilização na construção de um novo paradigma”, propugna o documento.
A primeira assinatura é de Mário Soares.
Com o documento agora tornado público, os signatários do campo socialista acabam por subscrever um texto que se afasta da postura moderada da atual liderança do PS. António José Seguro tem evitado colocar-se numa posição de apoio expresso à greve geral convocada pela UGT e pela CGTP. No último fim de semana, ao fechar o Congresso da Corrente Sindical Socialista da CGTP, o secretário-geral da maior formação política da Oposição limitou-se a considerar que “um partido socialista tem de estar onde estão as trabalhadoras e os trabalhadores portugueses”. “Nós no PS defendemos um movimento sindical forte, livre e independente, sem correias de transmissão. Nós dispensamos essa ideia arcaica de que tem de se ir ao partido perguntar o que é que se faz no sindicato. Não, nós queremos outro tipo de relacionamento”, defendia então o líder socialista, depois de saudado o facto de a Corrente Sindical “não aceitar tutelas”. Quem já manifestou “total solidariedade e apoio à greve geral” foi Manuel Alegre. Numa mensagem à Corrente Sindical Socialista da CGTP, entretanto divulgada pela Lusa, o ex-candidato do PS à Presidência da República afirmou ser “necessário defender os direitos dos trabalhadores e as funções sociais do Estado contra a revolução ultraliberal e conservadora que configura a maior ofensiva estratégica de sempre no sentido do empobrecimento do país e do esvaziamento dos direitos sociais da nossa democracia tal como estão consagrados na nossa Constituição”.
O documento apela à mobilização política e cívica dos cidadãos “na construção de um novo paradigma”, com críticas à política de austeridade e denúncias sobre o perigo que pode constituir para a democracia a recente tendência europeia que promove governos tecnocratas. “Num momento tão grave como este, é decisivo promover a reconciliação dos cidadãos com a política, clarificar o papel dos poderes públicos e do Estado que deverá estar ao serviço exclusivo do interesse geral”, refere o documento a que o i teve acesso. Além de Mário Soares, assinam este apelo, endereçado aos “cidadãos de esquerda que se revêem na justiça social e no aprofundamento democrático como forma de combater a crise”, Joana Amaral Dias (ver entrevista ao lado), Isabel Moreira, José Medeiros Ferreira, Mário Ruivo, Pedro Adão e Silva, Pedro Delgado Alves, Vasco Vieira de Almeida e Vítor Ramalho. Denunciando aquilo que identificam como a “escalada da anarquia financeira internacional”, os signatários responsabilizam a União Europeia, que “acordou tarde para a resolução da crise monetária, financeira e política”. Em plena discussão do Orçamento do Estado para 2012 em que o PS se vai abster, os signatários dizem claramente que se “opõem a políticas de austeridade que acrescentem desemprego e recessão, sufocando a recuperação da economia”. E por isso os signatários consideram que “só a esquerda democrática” pode oferecer uma alternativa inovadora à “multidão” de “desempregados desamparados, a velhice digna ameaçada, os trabalhadores cada vez mais precários, a juventude sem perspectivas e empurrada para emigrar”. Evocando as revoluções e protestos que se têm produzido nos países árabes, o apelo ressalva que não podemos saudar democraticamente aqueles protestos e temer semelhantes nas “nossas próprias ruas e praças”.